Quatro anos, quatro finais iguais. Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers são novamente os competidores para o título da NBA, tal como aconteceu nos últimos três anos. Os Warriors, vencedores em duas dessas três edições – e atuais campeões em título –, são os claros favoritos (entre 70 a 80 por cento para a maioria das casas de apostas especializadas em desporto), até porque têm os figurões Stephen Curry, Kevin Durant e Klay Thompson provavelmente na melhor forma da época.
Para este cenário de descrédito e quase nenhuma confiança nos Cavaliers, muito contribuíram as várias mudanças no elenco no início da temporada, com destaque para a saída de Kyrie Irving, claramente o segundo melhor jogador da equipa, para os Boston Celtics, por troca com Jae Crowder, Ante Zizic e Isaiah Thomas – todos acabariam por se revelar enormes deceções. Quartos na fase regular da Conferência Este, os Cavs precisaram, por exemplo, de ir ao sétimo jogo frente aos Indiana Pacers (uma equipa que, em condições normais, seria cilindrada pelos Golden State) e, na final, com os Boston Celtics, uma equipa desfalcada das suas grandes estrelas (Kyrie Irving e Gordon Hayward, que se lesionou no primeiro jogo da época e não mais voltou a jogar) e recheada de rookies e semi-rookies.
Há, porém, um fator que continua, jogo após jogo, ano após ano, a dar alento e alguma dose de esperança ao conjunto de Cleveland: chama-se LeBron James, já considerado por muitos como o melhor da história do jogo – sim, inclusive à frente do extra-terrestre Michael “Air” Jordan. Sobre essa comparação, aliás, os números jogam a favor… de ambos. LeBron tem superioridade no número de jogos em finais (45 vs 35), assistências (339 vs 209), ressaltos (456 vs 211) e roubos (39 vs 23). Jordan, por seu lado, tem uma média de pontos por jogo superior (33,6 contra 27,7), tal como a percentagem de lançamentos certos: 48,1 por cento (438 convertidos em 911 tentativas) contra os 46,7 por cento de LeBron (1008 tentativas, 471 convertidos). Em termos absolutos, a coroa continua na cabeça de Jordan, campeão nas seis finais que disputou; LeBron venceu “apenas” três das oito onde esteve presente.
Despedida em beleza Ainda não é oficial – longe disso –, mas pode dizer-se que é oficioso: esta será a última final de LeBron James ao serviço dos Cleveland Cavaliers. Aos 33 anos, e depois de uma das épocas mais difíceis – em termos coletivos – dos Cavs, o extremo parece estar à beira de se despedir do clube de Ohio, onde deu os primeiros passos na NBA em 2003, vindo diretamente do liceu. Termina contrato, como em todas as épocas – assina sempre apenas por um ano –, e desta feita não aparenta estar muito inclinado a renovar.
A confirmar-se esse cenário, LeBron tem assim nesta final – a oitava consecutiva – a última hipótese para celebrar a segunda conquista pelos Cavs, depois de quatro presenças na final e apenas uma vitória – em 2016, ao sétimo jogo contra os Golden State, num título que escapava aos Cavs há 52 anos. Entre 2010 e 2014, uma passagem feliz pelos Miami Heat, onde pôde festejar a vitória final em 2012 e 2013, sendo ainda vice-campeão em 2011 e 2014, antes de regressar a Cleveland e ver ser-lhe perdoada a “traição” da saída quatro anos antes.
Para já, os adeptos dos Cavaliers podem agradecer a LeBron a presença nesta final. O King carregou a equipa às costas nos play-off, nomeadamente na final da Conferência Este, fazendo uma exibição perfeita – e os 48 minutos – no jogo 7, o de todas as decisões (35 pontos, 15 ressaltos e nove assistências). E sem a muleta Kevin Love, que estava lesionado e continua em dúvida para o primeiro jogo da final, que se disputará na madrugada desta sexta-feira, com os Golden State, campeões em título, a jogar em casa, na Oracle Arena, em Oakland. “É inacreditável ver a consistência e a longevidade de LeBron ao mais alto nível. Vi o jogo dele em Boston e fez pontos que pareciam impossíveis”, disse Stephen Curry após o encontro com os Houston Rockets, que valeu igualmente o bilhete para a final aos Golden State.
Curry, claro, é o outro grande candidato à distinção de MVP da final. Se LeBron deslumbrou no jogo 7 a Este, o base dos Warriors fez algo parecido a Oeste. A perder por 11 pontos ao intervalo, perante os Boston Celtics, a formação de Oakland deu a volta ao resultado na segunda metade, com Curry a fazer 27 pontos (sete triplos em 15 tentativas), dez assistências e nove ressaltos. Bem secundado, claro, por Kevin Durant (34 pontos, cinco ressaltos e cinco assistências) e Klay Thompson (19 pontos).
Supremacia californiana O maior favoritismo dos Golden State – ainda com Andre Iguodala, MVP da final de 2015, em dúvida – justifica-se com o saldo global na temporada: mais vitórias, mais pontos, maior percentagem de triplos convertidos e ressaltos defensivos. Além disso, na fase regular os campeões bateram a formação do Ohio nos dois jogos.
A história das últimas três finais nunca se repetiu. Em 2015, os Warriors festejaram o título ao sexto jogo (4-2); no ano seguinte, foi no jogo 7 que os Cavs fizeram a festa; em 2017, a equipa da California só precisou de cinco jogos (4-1) para garantir a quinta conquista em nove finais. Agora, na décima presença (é já a terceira equipa com mais finais no currículo, só superada pelos Los Angeles Lakers – 31 – e pelos Boston Celtics – 21), tudo parece encaminhado para o sexto triunfo. Mas não há jogos ganhos à partida – e LeBron pode sempre ter um dia bom. Ou quatro. Os Cavs agradeciam.