1.A decência venceu no Parlamento, na passada terça-feira: a maioria dos deputados votou contra a liberalização da eutanásia. Isto não significa que as pessoas que advogam a eutanásia são indecentes: significa, tão somente, que a aprovação da liberalização de tal prática neste momento, com o alcance e o sentido dos projectos-lei objecto de votação parlamentar, com uma discussão estéril e apressada, seria indecente.
Uma ruptura civilizacional – para nós, seria mesmo um retrocesso civilizacional que desprotegeria os sectores mais vulneráveis da sociedade, aqueles que a esquerda totalitária do Bloco e do extremo-PS afirmam defender – não se aprova com a mesma leviandade com que se aprova o regulamento de caça ou os benefícios fiscais à associação dos amigos dos pombos. Queriam aprovar uma lei que marca uma ruptura absoluta no modelo civilizacional preconizada pela maioria do povo português às escondidas, sem discussão, nem envolvimento da sociedade civil.
2.Mais: não se percebe a pressa da esquerda folclórica portuguesa para impor contra a vontade da maioria dos portugueses a eutanásia. Seria uma prioridade nacional? Uma urgência nacional que não poderia esperar até que se formasse uma mais profunda consciencialização nacional quanto à opção a tomar? Claro que não: a eutanásia nem sequer constava das prioridades cimeiras dos portugueses. Já ouvimos por várias ocasiões (vezes de mais!) os portugueses queixarem-se da qualidade dos serviços médicos que lhes são prestados; contudo, nunca ouvimos, mesmo entre os pacientes dos hospitais em situações muito delicadas, alguém afirmar que “ai, quem me dera que a eutanásia fosse legal!”.
Eis, pois, uma questão que nos deixa absolutamente perplexos: a votação sobre a eutanásia não pode esperar, até que a sociedade civil discuta, reflicta, pondere nas consequências da liberalização da eutanásia? Não deverá o povo português ter o poder decisório fundamental na escolha do seu modelo de sociedade? Afinal de contas, não é isso a democracia?
3.Dito isto, mais uma vez, a esquerda folclórica mostrou o quão democrata é – perderam a votação, mas reivindicaram uma vitória para si. Porquê? Porque, afinal de contas, o projecto-lei sobre eutanásia foi submetido a votação – mas não para ser aprovada. O objectivo era apenas “fazer caminho”, “lançar a discussão”, “plantar a semente” para dar vida ao diploma da morte.
Catarina Martins surgiu logo a reclamar vitória – e prenunciar, desde já, que na próxima legislatura, teremos, com toda a certeza, a eutanásia. Para a esquerda tão democrata como a democrata Venezuela, as derrotas transformam-se sempre em vitórias. Catarina Martins e António Costa sabem que a democracia não passa de uma palavra vã, absolutamente desprezível nos seus planos pessoais de poder: eles bem sabem que basta dominar o sistema (administração pública e comunicação social) para imporem as respectivas agendas políticas.
Donde, após efectuarem um “take over” ao sistema nos últimos anos, os dois líderes da esquerda folclórica estão confiantes que irão obter uma maioria absoluta (juntos) nas próximas legislativas – a primeira medida será então a liberalização da eutanásia, sem que ninguém possa contestar a legitimidade de tal medida por falta de discussão. Afinal de contas, como afirmou Catarina Martins, a semente já havia sido lançada na legislatura anterior…
4.Os portugueses sabem, pois, que votar no PS e no Bloco de Esquerda, é votar na eutanásia. É votar na cultura de morte à la esquerda radical. É votar a favor da condenação à morte dos sectores mais vulneráveis da sociedade portuguesa, daqueles que frequentemente são esquecidos pelo poder político e mediático português. Uma dúvida inquietante, no entanto, subsiste: e o PSD? O voto no PSD significará um voto a favor da eutanásia?
Pois, não sabemos – essa é a grande interrogação nas próximas legislativas. Ficou evidente que há dois PSD’s: o PSD de Fernando Negraão, que é sensato, conforme à Constituição e aos direitos humanos, defensor da democracia e da soberania popular – e outro PSD, personificado por Rui Rio e Pacheco Pereira, que é defensor da eutanásia e que alinha, superando em radicalismo, com a agenda fracturante da esquerda totalitária.
Com esta particularidade: Rui Rio, com o seu défice de intuição política, nem sequer percebe que a jogada da eutanásia serviu apenas para desviar as atenções dos portugueses de outros assuntos com os quais a geringonça não consegue lidar!
De facto, estas causas fracturantes são o único elo de ligação entre BE e PS; cria-se, pois, assim, a aparência de que a “geringonça funciona”. Por outro lado, o BE sabia perfeitamente que o PCP iria votar contra – logo, a eutanásia foi uma cartada jogada por Catarina Martins para dar um sinal claro do que pretende após as legislativas de 2019: formar Governo com Costa, excluindo Jerónimo de Sousa e a “esquerda impura” do PCP…
5.Ora, ver o líder do nosso partido, do maior partido de Portugal, do maior partido parlamentar, a branquear, a dar gás às manobras tácticas da esquerda radical – é muito, mas muito, doloroso. Dói.
E o mais provável é mesmo que o voto no PSD, em 2019, signifique um voto a favor da eutanásia – isto porque Rui Rio escolherá um grupo parlamentar à medida das suas ideias e convicções políticas. Daqui decorre que o próximo grupo parlamentar do PSD votará provavelmente a favor da eutanásia – até porque os deputados escolhidos por Rio irão querer retribuir o gesto de simpatia do líder…
Reiteramos: não se percebe por que razão Rui Rio colocou um empenho tão entusiasmado na aprovação da eutanásia, que é rejeitada pela maioria dos militantes do partido – e nem sequer é uma prioridade nacional! Com tantos problemas relacionados com a governação geringonçada de António Costa que Rui Rio ignora (e sobre os quais se mantém caladinho!), o líder do PSD resolveu mostrar um dinamismo inusitado – e paradoxal com o estilo que tem adoptado até ao momento! – sobre uma prioridade inventada pela esquerda caviar do Bloco de Esquerda e do PS! Prioridade, essa, que não é partilhada pelo “país real”!
6.Convém esclarecer esta questão o mais celeremente possível: que PSD teremos em 2019 – o de Rui Rio (pró-eutanásia) ou o de Fernando Negrão (que recusa a eutanásia, nos termos apresentados)? Por nós, não temos dúvidas que esperemos que seja o de Fernando Negrão, no qual votaremos com convicção e orgulho.
Já se for o PSD de Rui Rio – que alinhará com a esquerda proto-nazi do Bloco de Esquerda -, nós, a maioria dos militantes e votantes do PSD, confrontar-nos-emos, em 2019, com um dilema moral delicado: se votarmos num grupo parlamentar que projecte a visão pessoal de Rui Rio sobre a eutanásia, seremos tão culpados como o Bloco de Esquerda pelo triunfo da cultura da morte. E, assim for, o que distinguirá o PSD da esquerda oportunista e acéfala de António Costa? O PSD precisa de acordar para a vida – a maioria silenciosa dos portugueses está à nossa espera!