Ao contrário de que aconteceu em 2012, quando Angela Merkel realizou a primeira visita oficial a Portugal, a chanceler alemã não ouviu protestos por causa da austeridade. Em seis anos mudou muita coisa. Até o governo, que passou a ser apoiado por alguns dos que estiveram na linha da frente na contestação à troika.
António Costa, na conferência de imprensa que marcou o fim da visita, no Palácio Foz, em Lisboa, fez questão de realçar a satisfação por “a chanceler Merkel ter regressado a Portugal num momento diferente da nossa vida, depois de termos virado a página da crise económica e financeira”. O primeiro-ministro aproveitou para destacar que o país conseguiu sair do procedimento por défice excessivo e apresenta “uma trajetória sustentável de redução do nosso défice e da nossa dívida”.
Angela Merkel também referiu que o país mudou desde a sua última visita. “Hoje, Portugal apresenta-se numa situação otimista e é motivo de alegria para mim.” Merkel garantiu que as “relações são muito estreitas, muito boas” e mostrou-se satisfeita por “conhecer um pouco mais” de Portugal. “A beleza deste país já é conhecida por muitos turistas alemães”, acrescentou.
Fundos comunitários As negociações para o orçamento da União Europeia foram um dos temas principais da visita de Merkel a Portugal. António Costa e Rui Rio apareceram alinhados a reclamar mais recursos. Rui Rio disse à chanceler alemã que Portugal perde 7% dos fundos europeus, enquanto países mais desenvolvidos, como a Itália, recebem mais fundos. “Procurei sensibilizá-la para este facto e, com isto, dar também uma ajuda nas negociações que agora o governo vai ter de conduzir. Se não otimizarmos o montante de fundos comunitários, o investimento público em Portugal irá ressentir-se um pouco mais.” Ao lado da chanceler alemã, António Costa mostrou-se convicto de que “há margem para continuarmos a trabalhar para melhorar” a proposta apresentada pela Comissão Europeia. “Portugal tem defendido que a Europa tem de ter um orçamento à medida da sua ambição.”
Merkel não iludiu as dificuldades e assumiu que “a aprovação do quadro financeiro plurianual será tão complicada como a quadratura do círculo, depois da saída de um país, de um contribuinte líquido, e ao mesmo tempo com o acréscimo de tarefas. É, de facto, um enorme desafio”.
O Presidente da República, que se reuniu em Belém com Merkel, sublinhou a sintonia entre o governo e o PSD. “Como terão percebido, é bom para Portugal que haja sintonias de posições, não apenas entre o Presidente da República e o primeiro-ministro, mas também com o líder da oposição, quando se trata de defender os fundos europeus para Portugal, quando se trata de falar da importância da coesão e da Política Agrícola Comum para a Europa, mas também para Portugal.” Marcelo Rebelo de Sousa disse, em Monção, que existe “a preocupação do lado do Presidente da República, do primeiro-ministro como, penso eu, do líder da oposição quanto à estabilidade política na Europa, para que não haja perturbações financeiras num momento em que se decide sobre o orçamento para 2027 e se tomam outras decisões fundamentais e urgentes”. O chefe de Estado rejeitou fazer comentários sobre a situação em Espanha, mas manifestou o desejo de que “haja estabilidade generalizada na Europa, que impeça perturbações que também teriam consequências em Portugal”.