Fernando Correia abre as páginas da sua vida e conta como ingressou na carreira de jornalista, apesar de o seu sonho ser seguir medicina. De 60 anos de carreira ainda guarda com alguma amargura a forma como foi saneado da rádio após o 25 de Abril, apenas por desempenhar as suas funções durante o anterior regime. É o “pai” dos debates desportivos, mas descarta qualquer responsabilidade na forma como as televisões replicaram este modelo, apostando em insultos e quase em agressões. Quanto ao seu novo cargo no Sporting, Fernando Correia admite que já foi insultado na rua e há quem considere que está a cometer um grande crime por tentar unir o Sporting. Para o jornalista, essas pessoas querem é a divisão e a instabilidade do clube leonino.
Ao aceitar este cargo, acha que vai criar inimizades?
Claro. Já me dizem como é que fui fazer isso quando me respeitavam tanto e acham que estou a cometer um grande crime que é o de tentar unir o Sporting. Para eles é um crime porque o que eles querem é a divisão, é a separação. Isto é inteligente? Não é. O presidente foi eleito com 90 e tal por cento de votos, quase 100%, tem legitimidade absoluta para dirigir o clube durante o seu mandato e quando terminar há novas eleições, e aí pode ir para a rua ou não. Se durante o seu mandato se portar mal, pode-se pedir uma assembleia-geral para analisar os factos, e na vida democrática é isso que se faz. Agora fazer isto de graça e dizer apenas “agora não gosto de ti e, por isso, vou pôr-te na rua porque escreveste no Facebook uma coisa de que não gostei” não faz qualquer sentido. Eu posso aconselhar a que não se escreva no Facebook, pois o Facebook é uma arma terrível. Eu posso aconselhar que a pessoa use ou não use gravata, posso aconselhar que a pessoa se cale ou que olhe de outra forma para as pessoas. A imagem é muito importante e é cada vez mais importante. Posso aconselhar que as pessoas não sejam como o Donald Trump, mas há uma coisa que não consigo fazer: é dizer aos outros que têm de olhar para essa pessoa da forma como acho que devem olhar. Primeiro, com respeito e, depois, se não estão de acordo, utilizar os meios próprios para tentarem resolver a questão. Se é uma questão de destituição, então que se faça uma assembleia-geral para discutir isso, mas com bases sérias. Não posso dizer que vou fazer uma Assembleia para destituir este senhor porque não gosto da cara dele ou porque no outro dia disse uma palavra de que não gostei. Não posso, isso nem sequer é lógico, nem faz sentido.
E acha que já está a conseguir acalmar os ânimos dos sócios?
Ainda estou há pouco tempo. O que tento fazer é que o presidente não fale e que presida às coisas que tem de presidir e que resolva as coisas que tem de resolver. E eu falo por ele, não tenho problema nenhum com isso. Aliás, esse tipo de postura é comum internacionalmente: qualquer pessoa que desempenhe um cargo com uma determinada importância ou com determinado relevo tem sempre uma equipa ao lado dele que o ajuda a transmitir a sua mensagem. Nem é preciso chegar a presidente da República para existir esse tipo de funções. Neste caso específico do Sporting, acho que o presidente da SAD – cotada em bolsa e, às vezes, as pessoas esquecem-se disso, com obrigações perante a CMVM e perante os acionistas – e o presidente do conselho diretivo, que por acaso é o mesmo, tem de ter um comportamento de acordo com o cargo que desempenha. Como tal, tem de falar nos sítios em que tem de falar e sobre casos que tem de falar; o resto deixa para as outras pessoas.
Leia a entrevista completa na edição de fim de semana do i