Foi assim que Rui Rio disse que queria que o PSD fosse, na apresentação da sua candidatura à liderança dos sociais-democratas. Rio percebeu que a estratégia anterior não produzia frutos, e que muitos portugueses odiavam (é a palavra certa) Passos Coelho. Por isso, a sua política para a infância hoje apresentada surpreende, e não surpreende. Surpreende pelo arrojo das propostas apresentadas, e não surpreende porque vemos Rui Rio a atacar o centro, o “eleitorado flutuante” de um milhão de eleitores que alterna o seu voto entre o PS e o PSD, e que assim decide o resultado das eleições.
As propostas para a infância são arrojadas, e transversais. No essencial – e do pouco que me informei – são boas ideias. Só a proposta de dar a todos os agregados familiares o mesmo montante, independentemente dos respetivos rendimentos, me parece uma má ideia, e pouco social democrata. Dando menos (ou nada) a quem tem mais, pode-se dar mais a quem tem menos.
De qualquer forma, Rio já colocou Costa à defesa. Apresentou propostas populares, cabendo agora a Costa dizer com o que concorda, com o que discorda, e porquê. Sendo Rio economista, suponho que as contas estejam todas feitas e que a política para a infância seja orçamentalmente comportável. Suponho.
Também é preciso ver como a economia evolui, se foram ou não as excecionais chuvas de março, ao afetarem a construção, que levaram a um crescimento do PIB no primeiro trimestre inferior ao espertado. O rigor – a austeridade, se preferirem – terá de ser mantida porque, como escreveu no passado sábado o professor César das Neves, temos uma dívida de tal forma alta que nos assombrará durante décadas. Não anos. Décadas.
Voltando ao tema inicial da crónica, o governo pretende combater o problema da queda da natalidade em Portugal oferecendo incentivos financeiros aos jovens imigrantes para regressarem. Também é uma boa ideia. Mas tem um alcance mais limitado. E, emocionalmente, é mais custosa, porque depois de terem sofrido o choque cultural de se adaptarem a um país e uma cultura diferentes, vão agora sofrer o choque cultural inverso, que é o de se voltaram a adaptarem a coisas (como, por exemplo, a falta de pontualidade) das quais já se tinham desabituado. Acreditem, custa mais.
Temos agora, e finalmente, uma oposição a sério, e mais eficaz do que a liderada por Passos Coelho. À medida que as eleições legislativas se aproximam, a situação vai-se tornando mais interessante. E, como o PS bem sabe, é um grave erro subestimar Rui Rio.