O ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido anunciou ontem que Angola já manifestou intenção de aderir à Commonwealth (comunidade dos países de língua inglesa).
“Esplêndido que Angola queira juntar-se à família da Commonwealth. O esforço do presidente Lourenço por uma reforma a longo prazo contra a corrupção e pela melhoria dos direitos humanos é muito bem–vindo. Esperamos saudá-lo brevemente no Reino Unido”, escreveu no Twitter Boris Johnson.
A notícia surge dias depois de, em Paris, o presidente angolano, João Lourenço, eleito em setembro, ter anunciado que Luanda também vai pedir adesão à Organização Internacional da Francofonia, um interesse já apoiado pelo próprio presidente de França, Emmanuel Macron.
“A exemplo do que se passa com Moçambique, que está ali encravado entre países anglófonos (…) e acabou por aderir à Commonwealth, também Angola está cercada, não por países lusófonos, mas por países francófonos e anglófonos. Portanto, não se admirem que estejamos a pedir agora a adesão à francofonia e que daqui a uns dias estejamos a pedir também a adesão à Commonwealth“, tinha já afirmado João Lourenço numa entrevista à cadeia televisiva Euronews, numa recente viagem a Paris.
Geografia Na base desse interesse está o facto de Angola se localizar numa zona geográfica limitada por países que pertencem a dois grupos linguísticos diferentes. O país situa-se na costa do Atlântico Sul de África, entre a Namíbia (de língua oficial inglês), o Congo (francês), a República Democrática do Congo (francês) e a Zâmbia (inglês).
“Somos lusófonos, temos vizinhos anglófonos e francófonos. Temos tudo a ganhar se tivermos perto de todo o tipo de organização que esses países vizinhos integram”, declarou o ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, nessa viagem, citado pela ANGOP – Agência Angola Press.
São Tomé e Príncipe e a Guiné-Bissau pertencem à Organização Internacional da Francofonia – que integra 57 países – e Moçambique pertence à Commonwealth, uma comunidade de 53 países que evoluiu a partir do antigo Império Britânico. A antiga colónia portuguesa, que aderiu em 1995, e o Ruanda, ex-colónia belga. são, até agora, os dois únicos países-membros da organização que não foram antigas colónias do Reino Unido.
“Esta decisão não é menosprezo pela CPLP ou por Portugal”, afirmou o antigo embaixador Martins da Cruz, citado pelo “Eco”. O também antigo ministro dos Negócios Estrangeiros refere que ela se insere numa lógica de alargar as “perspetivas de política externa”, o que “é positivo [e] fica bem a uma potência regional”. De acordo com o “Público”, este novo posicionamento é visto pelos especialistas como uma forma de Luanda se tentar afirmar como potência regional (África) e sub–regional (África austral).
Confrontada com uma crise económica desde 2014 e com escassez de divisas, Angola necessita do investimento estrangeiro para reduzir a dependência da receita do petróleo, que representa 30% do PIB, 90% do valor total das exportações e 46% das receitas orçamentais.
Na terça-feira, o presidente angolano concluiu uma visita oficial à Bélgica, depois de ter estado em França. Num esforço para convencer empresários belgas a investir em Angola, João Lourenço anunciou em Bruxelas, perante uma plateia de investidores, que está a preparar um plano de privatização total ou parcial de algumas grandes e médias empresas públicas, incluindo o setor petrolífero e as telecomunicações. O presidente angolano assegurou que todo o processo de privatização será transparente e que todos os candidatos terão oportunidades e condições de acesso iguais.
“Visitem Angola. Vão conhecer o novo destino do investimento em África. Garantimos que ficarão encantados e atraídos pelas oportunidades que vão encontrar”, disse o presidente angolano, citado pelo “Jornal de Angola”. João Lourenço acrescentou que “Angola é um país estável, acolhedor e com necessidade de investimentos em todos os setores da economia”.