As zonas costeiras de interface entre o mar e a terra são zonas extremamente importantes, muito ricas, sensíveis e extraordinariamente dinâmicas. São múltiplas e complexas as alterações que, por vontade da natureza ou por ação humana, acontecem nas zonas costeiras, desde fenómenos de erosão a fenómenos de assoreamento, desde alterações de correntes a inundações…
Um caso paradigmático do grande dinamismo da natureza na linha de costa é o da Ria Formosa, no Algarve. Atravessando, ao longo de cerca de 60 Km, os concelhos de Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António, esta zona lagunar, conhecida como Ria Formosa é, também, um dos mais belos parques naturais do país.
Delimitada a Sul pelo cordão dunar formado pela Península do Ancão, pela Península de Cacela e por cinco ilhas barreira arenosas (Barreta, Culatra, Armona, Tavira e Cabanas) este sistema lagunar depende deste cordão dunar para sobreviver à dureza do Oceano Atlântico, mantendo as condições e características que atualmente conhecemos. A Norte, são várias as linhas de água doce que nela desaguam (ribeira de São Lourenço, rio Seco, ribeira de Marim, ribeira de Mosqueiros, rio Gilão, ribeira do Almargem e ribeira de Cacela), separadas por salinas, pequenas praias arenosas e por terra firme. A Ria Formosa tem uma fisionomia bastante diversificada devido aos canais formados sob a influência das correntes de maré, construindo assim uma rede hidrográfica densa.
Este sistema lagunar, protegido por dunas, é o suporte de importantes atividades económicas, como a pesca e o turismo. Aparentemente, estas dunas, estas ilhas de areia, nasceram no mar e estão em permanente movimento, em direção ao continente. A movimentação é visível, no período de uma década, há zonas de areal que estão a diminuir perigosamente, como é o caso da Fuzeta e outras a ganhar mais areia, como é o caso da Armona.
Este exemplo da Ria Formosa alerta-nos para a necessidade de que qualquer ordenamento ou planeamento de atividades, industriais ou não industriais, que utilizem a linha de costa deve ter sempre presente o respeito pelo meio ambiente e deve prever, tanto quanto for possível, as dinâmicas físicas que o recurso natural marítimo terá no futuro. Não ter em conta a grande probabilidade de ocorrência de alterações na linha de costa, motivadas pela natureza ou pelo ser humano, significa poder vir a ter avultados prejuízos económicos e sociais que bem podem ser evitados.
A beleza da Ria Formosa e as suas constantes alterações físicas inspiram-nos para construir uma economia do mar robusta que antecipa alterações e que contribui para acrescentar valor económico, social e ambiental.
*Sócio da PwC