Muito se tem falado sobre os plásticos e as suas consequências, mas se o assunto é relativamente recente na opinião pública e no radar da governação, há muito tempo que é motivo de preocupação para vários movimentos. É o caso da Brigada do Mar, que comemora este ano o décimo aniversário e quis assinalar a data com uma ação de limpeza na costa de Grândola, como tem vindo a fazer todos os anos. Durante 15 dias, 400 voluntários de seis nacionalidades recolheram 26 toneladas de lixo, a maioria plástico. Agora, parte desse lixo vai integrar uma exposição do artista japonês Tadashi Kawamata no MAAT, com inauguração prevista para outubro.
Ao i, Simão Acciaioli, um dos colaboradores do movimento, que depende de apoios de parceiros para continuar de pé, explica que “a limpeza aconteceu ao longo de 45 quilómetros de costa, entre Troia e Melides. É que Grândola é provavelmente um dos concelhos com mais bandeiras azuis, mas essas bandeiras, se calhar, cobrem apenas dez quilómetros dos 45 de costa total”. Talvez assim se justifique a quantidade de lixo recolhido que, contas feitas, ascende a 500 quilos por quilómetro percorrido.
Visto de fora, imagina-se que o processo possa ser particularmente demorado, mas Simão garante que já foi mais. “Nos primeiros anos em que fizemos esta limpeza, apanhámos o que estava depositado ao longo de anos, mas a partir de determinada altura percebemos que estávamos a ser mais cada vez mais rápidos – antes, para encher um saco, dava cinco passos, e hoje tenho de dar 100”, recorda.
O método da brigada – que está sempre a recrutar voluntários através do site – não envolve máquinas: tudo é apanhado à mão, para garantir que as zonas de duna, com a sua vegetação, não são prejudicadas.
A maioria do lixo recolhido pela Brigada do Mar nesta e noutras ações é plástico – o fragmento mais pequeno que Simão recorda ter apanhado media perto de cinco centímetros. Nesta ação, 90% dos resíduos reunidos provém de atividades pesqueiras. “O lixo deixado pelos banhistas, nesta altura, não tem grande representação, ao contrário do que se verifica em agosto quanto a beatas, por exemplo."
Assim, na visão de Simão, a consciencialização para o problema do lixo na praia deve passar por todos, até porque a responsabilidade é de todos. Foi por isso que o movimento aceitou de imediato o pedido do MAAT, que procurou a Brigada para que cedesse materiais para uma ilha de plástico suspensa no teto, a fazer lembrar a do Pacífico, o mote da exposição. E quanto a possíveis soluções? “Há muito que defendemos que temos de deixar o conceito de lixo e que tudo tem de ter um valor. E, nesta linha, defendemos que deve haver tara”, remata o colaborador da Brigada do Mar.