E o impensável aconteceu. A dois dias da estreia no Mundial, diante de Portugal, a Federação espanhola resolveu demitir Julen Lopetegui. Uma decisão abruta e completamente inesperada, motivada pela oficialização da véspera do ex-treinador do FC Porto como próximo timoneiro do Real Madrid – um cargo que, obviamente, só iria assumir após o término do Campeonato do Mundo.
A notícia, porém, não caiu bem no seio da Federação espanhola, que foi completamente apanhada de surpresa – até porque Lopetegui tinha, há apenas três semanas, renovado até 2020 como selecionador. “Vimo-nos obrigados a prescindir do selecionador nacional. Desejamos-lhe a maior das sortes e tudo aquilo que a seleção conseguir é graças ao trabalho dele: enquanto esteve connosco fez um trabalho impecável. Mas agora, ter feito isto sem conhecimento da federação… é uma situação muito complicada, a mais complicada que poderia encontrar”, sublinhou Luis Rubiales, presidente da Federação espanhola, revelando só ter tido conhecimento da saída de Lopetegui cinco minutos antes de o Real Madrid fazer o anúncio oficial. “Se alguém quer falar com um empregado nosso, tem de falar connosco. Isto é o básico, pois esta é a equipa de todos os espanhóis. A seleção nacional e a participação num Mundial são o mais importante para o país”, completou.
Pouco depois de ter emitido este comunicado, Rubiales compareceu em conferência de imprensa ao lado do novo selecionador espanhol: nada mais, nada menos que Fernando Hierro, lenda do Real Madrid e da própria seleção espanhola, que representou em 89 ocasiões e pela qual marcou 29 golos – é o quinto melhor marcador de sempre da Roja, algo incrível para um antigo central/médio defensivo.
Retirado dos relvados desde 2005, Hierro era agora o diretor-técnico da seleção espanhola. A sua experiência como treinador, todavia, é muito pouca: depois de ter sido adjunto de Carlo Ancelotti no Real Madrid em 2014/15, passou um ano no comando do Oviedo em 2016/17, falhando o objetivo da subida (terminou em oitavo, a dois pontos dos lugares de acesso ao play-off).
Tem, agora, a ingrata missão de orientar, num Mundial, uma equipa escolhida por outro treinador e ainda por cima com o jogo de estreia já à porta. Ainda assim, o antigo capitão espanhol garantiu estar “motivado” para a tarefa e com “foco absoluto” no jogo contra Portugal e em tentar o título mundial, recusando ainda fazer “mudanças” em relação ao trabalho que Lopetegui vinha desempenhando. “Não se pode mudar num dia o que se fez em anos de trabalho. Temos de ser inteligentes, coerentes e saber que até ao jogo de Portugal não temos grande capacidade de mudança. É preciso gerir. Não podemos mudar absolutamente nada em dois dias. É um grupo e uma equipa fantástica, um grupo que fez uma qualificação fantástica. Pedimos que sejam eles mesmos: personalidade, são jogadores de grande capacidade”, salientou.
Espanha cai nas apostas Nem toda a gente partilha da mesma confiança, porém. Em particular as casas de apostas. Até aqui, Portugal estava longe de ser considerado favorito para o encontro de amanhã – Espanha, de resto, era apontada como uma das mais fortes candidatas à vitória final na prova. Agora, a Seleção nacional continua a não ser a favorita, mas as apostas na vitória dos comandados de Fernando Santos já estão a aumentar exponencialmente.
Ontem, o mercado das apostas registou uma forte oscilação nas probabilidades de vitória da equipa espanhola no encontro desta sexta-feira: antes do anúncio da contratação de Lopetegui pelo Real Madrid, a vitória de Portugal pagava 4,5 euros por cada euro apostado no Placard.pt, portal de apostas lançado esta semana. Agora, apostar um euro na seleção nacional já só gera um retorno de 3,90 euros. A vitória de Portugal é, ainda assim, vista como menos provável que um empate (que paga 3,25 euros por cada euro apostado), enquanto a vitória de Espanha, apesar de render menos, paga apenas 2,15 euros por cada euro apostado.
Curiosa foi a atitude tomada pela Paddy Power: a conhecida casa de apostas irlandesa decidiu reembolsar todos os que haviam apostado na vitória de Espanha no Mundial, comprometendo-se ainda a honrar a aposta original caso os espanhóis consigam mesmo conquistar a prova. Um ato bastante altruísta, por supuesto.