A degradação dos serviços postais está à vista de todos os que os utilizam. Os prazos de entrega elevam-se inacreditavelmente. Uma carta demora quatro dias a atravessar o Tejo. Os avisos de receção, pura e simplesmente, desaparecem. As reclamações multiplicam-se. Desde a privatização, os lucros caíram para menos de metade. E as ações caem a pique na bolsa (felizmente, tive o bom senso de não comprar).
À exceção da queda dos lucros e do valor das ações, duvido que a queda da qualidade dos serviços postais incomode quem tomou a decisão de privatizar (no anterior governo PSD/CDS). Porque a ideia base sempre foi a de transformar os CTT de uma empresa que entrega cartas e encomendas num banco. Num banco novo, livre de créditos malparados, limpinho e pronto a entrar em ação.
Em muitos países europeus os correios, mesmo que sejam públicos, têm bancos, alicerçados nas suas vastas redes de distribuição, e destinados ao segmento médio baixo do mercado. Não é, pois, uma originalidade portuguesa. E, nos EUA, centro do capitalismo mundial, os correios são públicos. Só em Portugal a vertigem de transformar um negócio de distribuição de cartas e de encomendas levou ao erro estratégico de privatizar os CTT-
Agora, a asneira já está feita. O Estado tem mais onde gastar o dinheiro do que em renacionalizar os CTT. Mas nada o impede de exigir mínimos na qualidade do serviço, sob pena de multa ou, no limite, de lhes retirar a concessão de entregar correio. Os CTT não estão sozinhos, há mais empresas a fazê-lo.
E, a julgar pelo funcionamento do banco CTT, onde alguns empregados tantos registam cartas, vendem bilhetes de lotaria, como fazem aplicações financeiros, não adivinho um futuro brilhante para o banco CTT.
O negócio financeiro é muito complexo e, como todos sabemos, tanto pode resultar em grandes lucros como em terríveis prejuízos. Será bom que nos lembremos disso quando o PSD e o CDS nos começaram a massacrar com a ideia que a única solução para a segurança social será privatiza-la. A acontecer, será sem dúvida uma atividade muito proveitosa para os gestores do dinheiro. Para quem desconta, será muito mais incerto.