Não será desta que o governo grego de Alexis Tsipras cairá. A moção de censura apresentada pela Nova Democracia, liderada por Kyriakos Mitsotakis, foi ontem derrotada no parlamento por 153 votos contra e 127 a favor, ao mesmo tempo que milhares de gregos protestavam em frente ao órgão legislativo, na Praça Syntagma.
"Este é o acordo que qualquer primeiro-ministro grego gostaria", disse Tsipras durante o debate parlamentar, referindo que o compromisso alcançado marca a "passagem da Grécia de um período de fraqueza económica e de isolamento internacional para um de recuperação económica forte e dinâmica".
Na aritmética parlamentar, a moção de censura estaria derrotada à partida se os Gregos Independentes, liderados por Panos Kammenos e parceiros de coligação do Syriza, não alinhassem com a oposição. Dias antes, Kammenos, explicou ser contra o acordo, mas que não iria votar ao lado da oposição para despoletar a queda do executivo. Ainda que o partido tenha tido disciplina de voto, um deputado dos Gregos Independentes rompeu-a e votou ao lado da oposição, gerando aplausos e sendo expulso pelo líder do partido.
No entanto, a explicação não o protegeu de duras críticas, com o líder do Nova Democracia a acusá-lo de voltar atrás com a palavra dada por em tempos ter dito que "nunca iria aceitar a concessão do nome Macedónia" ao Estado vizinho.
A Nova Democracia avançou com a moção de censura depois de os governos macedónio, liderado por Zoran Zaev, e grego terem chegado a acordo sobre o futuro nome da antiga República Jugolasva da Macedónia, terminando com mais de duas décadas de disputa entre os dois países. "Hoje estão todos a hipotecar o futuro do país", acusou Mitsotakis, referindo-se aos deputados que apoiam o governo.
Enquanto a votação avançava, os manifestantes, empunhando bandeiras da Grécia e gritando slogans nacionalistas, entravam em confrontos com a polícia, com esta a usar granadas de atordoamento e gás pimenta para impedir que entrassem no parlamento.
Tsipras não está sozinho nas dificuldades
O governo grego não é o único em dificuldades. Também na Macedónia a oposição ao acordo parece ser transversal. O presidente macedónio, Gjorge Ivanov, anunciou ontem recusar-se a ratificar o acordo com a Grécia, ao mesmo tempo que o principal partido da oposição, o nacionalista VMRO-DPMNE, também tornou pública a sua total oposição.
“A minha posição é final e não cederei a nenhuma pressão, chantagem ou ameaças”, afirmou Ivanov. “Não apoiarei ou assinarei um tal acordo tão prejudicial.” Também Hristijan Mickoski, presidente do VMRO-DPMNE, afirmou que se irá “opor ao acordo de capitulação por todos os meios legais e democráticos”.
Hoje de manhã, os ministros dos Negócios Estrangeiros grego e macedónio assinaram o acordo nas margens do lago Prespa, repartido entre a Albânia, Grécia e Macedónia, juntando-se-lhes Tsipras e Zaev num ambiente de celebração. Agora, o acordo será discutido e votado nos parlamentos dos dois Estados. Para ser aprovado, precisará de maiorias de dois terços.
Com o anúncio da posição do principal partido da oposição, o governo macedónio de centro-esquerda vê-se numa posição em que o desfecho mais previsível é a não aprovação do acordo no órgão legislativo. Neste sentido, o anúncio de Gjorge Ivanov representa uma forma de pressão sobre o parlamento macedónio.