Mais de duas mil crianças, retiradas dos seus pais, encontram-se detidas em campos de detenção no estado do Texas, Estados Unidos, na sequência da política de "tolerância zero" contra a imigração ilegal da administração Trump. Nas fotografias, podem-se ver as crianças a viverem dentro de gaiolas e a serem alimentadas a batatas fritas e garrafas de água, enquanto dormem em sacos-cama estendidos no chão e com folhas de papel grandes a servirem de cobertores.
Segundo a lei, a detenção das crianças deverá ser temporária, sendo, três dias depois, encaminhadas para outros serviços de apoio. Nem todas as crianças que atravessaram a fronteira com os seus pais foram afastadas das suas respectivas famílias. As autoridades norte-americanas explicaram que estão a permitir às famílias com crianças com menos de cinco anos mantê-las.
Sob pressão e alvo de uma onda de críticas, o presidente norte-americano, Donald Trump, veio a público ontem de manhã defender as ações da sua administração. "Os Estados Unidos não serão um campo de migrantes nem um centro de acolhimento de refugiados", afirmou.
Também a secretária da Segurança Interna, Kirstjen Nielsen, acompanhou o presidente ao afirmar que não irá pedir desculpas por a lei estar a ser cumprida e aplicada pelas forças de segurança norte-americanas. "Não pediremos desculpas pelo trabalho que estamos a fazer ou pela aplicação da lei, por fazermos o trabalho que os norte-americanos esperam que façamos", garantiu. "As ações ilegais têm e deverão ter consequências".
As críticas não se limitam ao campo político dos Democratas, com republicanos proeminentes a afirmarem-se contra e a condenação a "tolerância zero" de Trump. Uma das vozes que fez ouvir nos últimos dias foi a do senador John McCain, do Arizona e candidato republicano nas presidenciais de 2008. "A política de separação de famílias da administração é uma afronta à decência do povo norte-americano e contrária aos princípios e valores pelos quais a nossa nação foi fundada", escreveu na rede social Twitter. "A administração tem o poder de revogar esta política. Deveria fazê-lo".
McCain não está sozinho. O senador Ben Sasse, do Nebraska, também condenou a "tolerância zero", considerando-a "errada". "Isto é errado. Os norte-americanos não fazem crianças reféns, ponto", escreveu no Facebook.
O procurador-geral Jeff Sessions anunciou, há mais de um mês, que a administração Trump avançaria com uma política de "tolerância zero" para com os imigrantes ilegais que atravessassem a fronteira, fortemente militarizada, entre os Estados Unidos e o México. Esta política, sublinha o "Guardian", faz com que as crianças sejam retiradas aos pais enquanto estes aguardam julgamento em prisões federais. Ao não poderem ficar nas prisões federais, a administração começou a organizar os centros de detenção.
Para Trump, a sua administração limita-se a aplicar as "leis horríveis" que herdou do tempo dos democratas, mas antes da nova política as crianças não eram separadas dos seus pais. No entanto, não existe nenhuma lei de imigração que obrigue as autoridades a separarem as crianças da restante família e esta prática apenas começou a ser aplicada no terreno aquando do anúncio da "tolerância zero".