Uma professora, que muito considero, republicou nas redes sociais um texto de 2013.
Nele recordava que tinha posto fim à carreira graças à política do Governo de então e da do anterior. Leia-se, portanto, do liderado por Passos Coelho e do liderado por José Sócrates.
Recorda, portanto, uma dupla culpa de governos que, para além de não saberem compreender os professores, os feriram e desconsideraram.
Por mera coincidência, acompanhei uma entrevista concedida pelo Ministro das Finanças de José Sócrates e recordei que o bloqueio das progressões na carreira se deu ali, naquele tempo. Explicava o ex-ministro que a crise a tanto obrigava, mas acrescentava que o problema fundamental tinha a ver com a comparabilidade dos regimes da função pública e das exigências da comprovação do mérito.
Portanto, o que ele dizia era que o Governo não concordava com o estatuto da carreira docente e que a pretendia alterar. Assim, tão simples como isso.
Logo, a crise apenas tinha evidenciado uma realidade mais funda.
A crise tinha, apenas, começado. O Governo que se sucedeu estava de mãos e pés atados. Só podia fazer pior.
A austeridade era a filha da crise e os cortes os seus sucedâneos.
Bom, mas e agora?
Os professores mantiveram-se durante algum tempo mais ou menos silenciosos, até que um ato de luta sindical deu origem a um acordo recheado de expectativas. Esperaram, assim, que a justiça do que exigiam se impusesse.
E perceberam que uma pequena parte seria durante a vida deste Governo e a outra, a maior, noutros tempos a viver.
Alguém iria pagar…
Sempre achei estranha esta confiança, este ato de fé no alheio.
Hoje, a perturbação regressa.
Nem o que estava previsto para este ano se revela praticável.
Nos anos próximos a exigência acumulada é impossível.
Correram os sindicatos a renovar a luta.
Perfilam-se os partidos apoiantes do Governo a endurecê-la.
No receio da moderação do PCP, o Bloco de Esquerda lança-se na aventura sindical.
STOP, diz.
O que o Governo prometeu não cumpre, o que antecipou não existe.
Entalado, como Martim Moniz, o primeiro-ministro desabafa que não há dinheiro.
Centeno avisa…
Do outro lado, a questão não é a das consequências da greve e suas características, é outra, é mais funda.
Há muita gente que acreditou, que lutou, que confiou.
Têm razão para se sentir traídos num momento capital.
A questão que se coloca é, hoje, a de saber se, com o comportamento do Governo mais alinhado com a prudência, o PS consegue as condições para a maioria absoluta ou se os professores a impedirão em função do seu peso eleitoral.
O que vale mais, portanto: ou a disciplina orçamental ou a transigência com um grupo social importante.
Ou, o que talvez seja mais interessante, como é que este grupo grande pode ser dividido e diminuída a sua força.
Porque, como todos já perceberam, o próximo orçamento do Estado irá ser aprovado.
Há muito a perder entre a constelação dominante.
Dela destacada, a estrela do Norte brilha, mas brilha com suavidade.
Ainda não conseguiu descobrir o seu caminho.
Populares são os Santos, grande é o País.
Vivemos embalados por esta declaração vazia: a nossa marcha é linda!