Ainda faltam mais de cinco meses para a XI convenção nacional do Bloco de Esquerda, mas a Moção A, subscrita pela coordenadora do partido, Catarina Martins, revela o elevado grau de incerteza sobre o futuro dos acordos à esquerda. Para a dirigente do partido Rui Rio assume-se já como futuro colaborador de um governo PS, num bloco central subordinado”.
O grande momento de viragem foi o congresso do PS. A moção subscrita por Catarina Martins considera que os socialistas procuram “uma maioria absoluta ao centro” e abrem a porta a convergências à direita. “A assinatura de acordos com o PS sobre estratégia de investimentos e municipalização, bem como o apoio ao acordo com os patrões, mostram que o PSD quer favorecer o reposicionamento do governo do PS, substituindo acordos à esquerda por pactos de geometria variável. Esse caminho representa uma viragem à direita e uma ameaça para a defesa do salário e das pensões e para o combate à precariedade”, lê-se na moção. Para os bloquistas Catarina Martins, Marisa Matias e Pedro Filipe Soares o “PS tem afirmado as conquistas do diálogo à esquerda. Mas o seu congresso realizou uma viragem do discurso, apresentando esta experiência como um parêntesis na história do partido. Logo depois, o governo anunciou o acordo com o patronato para limitar o efeito das medidas contra a precariedade negociadas à esquerda.”
Quanto aos próximos atos eleitorais, a moção subscrita por Catarina Martins defende que o Bloco deve ir às urnas nas Legislativas “com um programa de governo e uma proposta de governação à esquerda”. O Bloco propõe-se “ ser força de governo, com uma nova relação de forças” e ir mais longe onde o PS parou. “Relançar a saúde e escola públicas e a dignidade do trabalho, combater o rentismo e recuperar a propriedade de bens estratégicos na economia e no ambiente” são as propostas para uma nova governação de esquerda “sem tibiezas”. Neste ponto, a moção defende uma “alteração dos tratados europeus para a redefinição da política económica e da dívida”.
Além da análise sobre o crescente reposicionamento do PS ao centro, a moção aponta ainda o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, como o “obreiro” do cenário de um bloco central (PS/PSD).
Num texto de nove páginas, os subscritores sublinham ainda a necessidade de manter a convergência com o PCP e deixam um caderno de encargos nas negociações para o Orçamento do Estado de 2019: vinculação efetiva de trabalhadores precários, designadamente na Função Pública, o fim do cortes nas pensões antecipadas, sobretudo para as longas carreiras contributivas. Na Saúde, a coordenadora do BE insiste no “acesso universal, gratuito e inclusivo a cuidados de saúde”, colocando de parte as parcerias público-privadas. E deixa uma referência muito dura para o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes: “A alternativa situacionista do atual ministro, apoiada pelo setor privado e pela finança, procura contrariar a exigência de consolidação e desenvolvimento do SNS (Serviço Nacional de Saúde)”.
A convenção nacional do BE realiza-se a 10 e a 11 de novembro.