A Expo 98 permitiu às pessoas a «noção de uma coisa chamada espaço público». Esta foi, na opinião de António Mega Ferreira, a grande mudança que o acontecimento de há 20 anos trouxe à cidade de Lisboa, transformando «os hábitos e os comportamentos dos seus habitantes».
O comissário executivo da Exposição Mundial de 1998 (Expo 98), convidado desta semana para o almoço-debate do International Club of Portugal, considerou que este evento trouxe um conceito inovador, a noção de usufruto do espaço público.
«A pessoas descobriram não só a fruição da zona ribeirinha, e do rio Tejo, mas também do espaço aberto onde se pode andar e circular, olhar as vistas, os edifícios, e as outras pessoas, e os jardins onde se podem rebolar», afirmou.
Isto porque, apontou Mega Ferreira, na altura se vivia «mais ou menos expatriados na ideia que o património é o construído» e com a «Expo 98 descobriu-se que património é tanto o que está construído como o espaço que fica entre o que está construído». De acordo com o comissário da Expo 98, «o tratamento desse espaço, e o seu ordenamento, que é uma forma de construção também, é vital» e de alguma forma este «aspeto do espaço público contaminou o país inteiro».
O também escritor dá como exemplo os muitos pavilhões multiúsos que se construíram um pouco por todo o país e também o mobiliário urbano que passou a ter algum design. «As pessoas foram à expo e gostaram do que viram, e naturalmente muitas queriam replicar», contou Mega Ferreira. «Isto é uma consequência induzida da experiência da Expo 98», argumentou.
Sobre as imediações do atual Parque das Nações, núcleo urbano em que se transformou o recinto da Expo 98, que visitou recentemente, Mega Ferreira afirmou que «aquilo está tudo a mexer» e teve o «grato prazer» de ver construir o projeto urbanístico para a zona da Matinha.
«Um objetivo que houve foi que o exemplo da expo tinha de contaminar o resto da cidade e o que eu vi foi que a contaminação foi positiva», defendeu o ex-jornalista , para dar o exemplo que «naquela zona envolvente, ao fim de 20 anos, isso, de facto, acontece».
O atual diretor executivo da Associação Música, Educação e Cultura/Metropolitana salientou ainda que a Exposição Mundial de 1998 foi uma «experiência fundamental que marcou muito uma, duas gerações de portugueses: os que foram a Expo, com certeza, os que depois da Expo continuaram a frequentar o Parque das Nações».
Exceção e urgência
O comissário executivo da expo 98 recordou ainda a sua «pior memória» da época que foi a descoberta da «fraude da cooperativa mar da palha», que com a «Expo a decorrer», o «rebentar do escândalo foi doloroso».
Mega Ferreira disse ainda que «só com a existência dos regimes de exceção e com o pouco tempo que havia foi possível construir a expo», uma vez que se gerou um «consenso de urgência» com todos os partidos e todos os sindicatos.
«O grande ausente deste almoço» foi António Cardoso e Cunha, que foi comissário da Expo- 98, concluiu Mega Ferreira, enfatizando que «sem ele, a Expo não teria sido possível».