Melhor seria difícil. Terminou no final desta semana o jubileu de diamante do príncipe Karim Aga Khan, em Lisboa, Portugal. Uma visita, uma estadia e uma efeméride que mereceu honras de Estado. O príncipe Aga Khan, líder da comunidade muçulmana ismaelita há seis décadas, escolheu Portugal e Lisboa não só para esta importante comemoração mas também para país e cidade sede do seu imamato.
Como tive várias vezes oportunidade de destacar, é uma grande distinção e uma grande honra termos sido escolhidos para tais acontecimentos e decisões. Esta importante comunidade ismaelita é constituída por cerca de 15 milhões de pessoas, com presença em muitos países de vários continentes, e está organizada como se se tratasse de um Estado sem território mas com uma ‘lei própria’. Com uma espécie de ‘Constituição’, que tem na rede Aha Kgan para o desenvolvimento (AKDN) – com um orçamento de cerca de seiscentos milhões de euros -, o seu instrumento de ‘apoio à humanidade’. Isso mesmo, apoio à humanidade, como centro do seu trabalho em mais de trinta países, com oitenta mil funcionários a cumprirem este desígnio em áreas diversas como a educação, a saúde, a cultura, etc.
Descendente direto do profeta Maomé, o príncipe Aga Khan tem uma obra notável, realizada por todo o mundo nas últimas décadas.
Da sua presença em Portugal, desde 1983, com a Fundação Aga Khan, temos conhecido em várias áreas da nossa vida coletiva a importância atribuída à educação, à cultura, à saúde, à música e a vários projetos sociais de muita relevância.
A escolha de Portugal para sede mundial do imamato tem grande significado não só político e diplomático mas também económico e social. Para além da instalação dos seus serviços e das suas equipas no nosso país, irá investir dezenas de milhões de euros em vários projetos. Um deles será a sua nova academia, com um investimento de cem milhões de euros, a primeira na Europa, que brevemente irá abrir em território português.
É ainda relevante destacar que, na última semana, estiveram em Lisboa, para participar nestas celebrações, cerca de cinquenta mil pessoas vindas de quarenta e cinco países, e cerca de sete mil artistas. Aliás, o príncipe Aga Khan anunciou um novo prémio para a área da música, que terá a sua primeira edição já em 2019.
Estima-se em quase duas centenas de milhões de euros o volume de dinheiro que Portugal e a cidade de Lisboa obtiveram com estas celebrações. Os mais altos dignitários do Estado português (Presidente da República, primeiro-ministro e presidente da Assembleia da República) conferiram, quer a esta visita quer ao significado destas celebrações, a dignidade de visita e de honras de Estado.
Distinção justíssima, porque o príncipe e líder religioso Aga Khan é um homem de causas muito nobres. Um homem de paz, de tolerância, de cultura e do apoio a vários projectos sociais que desenvolvam a humanidade. O próprio reconheceu que Portugal e os portugueses são um país e um povo tolerantes, respeitadores das diferenças e, acima de tudo, construtores de um mundo que esbate as diversidades e tantos muros que nos separam e entristecem.
A história de Portugal é bem ilustrativa de como, enquanto povo e nação, estamos em condições de marcar a diferença no diálogo inter-religioso e no que concerne à mediação diplomática e de conflitos entre os povos não só da Europa e de África, mas também da bacia do Mediterrâneo oriental e ocidental. Nenhum país europeu tem a história e a vivência internacional de Portugal, capaz de merecer a confiança e a credibilidade da generalidade dos povos e dos países.
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