Espera o senhor Presidente da República que a consequência da adoção das trinta e cinco horas de trabalho semanal não implique aumento da despesa.
Não é o único.
Consta que o ministro das Finanças pensa o mesmo.
Então, se em vários setores críticos há menos tempo de trabalho e mais solicitações e não pode aumentar-se a despesa, as duas soluções estimadas que são o aumento das horas extraordinárias ou a contratação de outros trabalhadores também não são possíveis.
Que o ministro da Saúde tenha os profissionais à perna, é lá com ele. Que tente a administração criativa com o ministro das Finanças, ainda se admite.
Que os utentes se atropelem e vejam o atendimento em risco, tolera-se até ao ponto em que a revolta tome conta dos comportamentos.
Não, não falo das greves nem das tomadas de posição dos profissionais.
De degrau em degrau, aproximam-se os tempos da cólera.
Não sei por quanto mais tempo o cidadão se cala quando, por exemplo, uma fratura exposta de um tornozelo não pode ser operada num hospital público por ausência de capacidade de resposta.
Pode ele ser ignorado?
Mas o que não é pensável é o Presidente concluir que o primeiro-ministro utilizou o expediente da reserva mental para fazer o contrário do previsto, para forçar a consequência.
A questão é a coerência governativa, não a pressão eleitoral.
E não, não estamos no domínio das histórias da carochinha.
Tem a sua pilhéria recorrer a ditos espirituosos nas reuniões de militantes.
Esta da recusa da procura do pretendente para celebrar o casamento suscita um bruáá de aprovação.
Mas, reflitamos um pouco.
Quem é o João Ratão e quem é a Carochinha?
A noiva é aquela que espera ser seduzida, a quem o pretendente vai prometer alguma coisa, que recebe para escolher.
O Ratão é o que necessita da aprovação daquela, que modela o seu comportamento para a agradar, que a quer satisfazer.
A Carochinha coloca condições. O Ratão pretende levá-la à certa.
Creio, portanto, ter o Primeiro ministro habilmente invertido os papéis.
E nada significa que a história pregressa dos ratos acentue a sua fidalguia, os seus valores, o seu desapego às conveniências.
O problema é agora. O Ratão precisa. A Carochinha faz-se difícil.
Todos sabemos como a história que nos foi contada em pequenos acaba mal.
O Ratão morre cozido e assado e a Carochinha fica a ver navios.
O caldeirão é o fim.
Exatamente como o poderá ser o mútuo engano descoberto.
Provavelmente como a queda de um governo no líquido borbulhante de um orçamento descasado.
Se assim é, mais vale cortar o mal pela raiz.
Faça a Carochinha o que fizer, diga o que disser, exija o que exigir, o Ratão finge-se interessado mas sacode a pressão.
Continuaria a ser ideal o consórcio mas chegaram ao fim as tentativas.
A pontaria é feita no sentido da autossuficiência. O sentido do dever exige que não perca tempo a conquistar quem quer que seja.
Exatamente, ninguém poderia ser mais claro, o sentido do dever. Daquele segundo o qual a dívida é sustentável sem loucuras arrivistas.
Dividem-se os papéis: o primeiro-ministro conta histórias, o ministro das Finanças acaba com elas.