Fecha-te Sarcófago

O sarcófago de Irtierut, uma das peças-chave da coleção do Museu da Farmácia de Lisboa, regressou ao seu lugar, depois de uma intervenção de restauro e recolha de amostras para análise laboratorial. Datado de 664 a 332 a.C., pode ser visto de novo e em lugar de destaque no museu que conta a história da…

Não é o tipo de intervenção a que se assista todos os dias. Daniel Vega, do departamento de Conservação e Restauro da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Nova de Lisboa, por exemplo, já recolheu amostras para análise de muitas peças, mas nunca de um sarcófago. Este de Irtierut esteve desaparecido da sala que ocupa há vários anos no Museu da Farmácia de Lisboa, mas apenas temporariamente. Na semana passada, regressou ao seu lugar, depois de, pela primeira vez desde que foi adquirido pelo museu, em 2002, ter sido alvo de um procedimento de limpeza e restauro de pequenas falhas na pintura.

Construído em madeira estucada, datará algures de 664 a 332 a.C.. Informação que confirmarão os resultados das análises às amostras recolhidas, bem como a um conjunto de contas encontradas dentro do sarcófago. Explica a diretora do museu, Paula Basso, que terá sido descoberto numa escavação algures entre 1910 e 1920, mas a história das mãos por que passou conta-se aqui a partir da década de 1940, quando foi comprado pelo colecionador arménio Josef Nestor e passou a integrar a Plaisant Josef Nestor Collection, nos Estados Unidos, para, mais de meio século depois ter sido adquirido pelo Museu da Farmácia num leilão da Christie’s e trazido para Lisboa, em 2002.

Desde a semana passada que o sarcófago de Irtierut, que a diretora do museu, Paula Basso, destaca como «uma das peças mais marcantes da coleção» pode ser visto de novo, agora restaurado, numa das salas principais do piso superior do museu, entre quatro vasos canopos, que os antigos egípcios utilizavam para conservar os órgãos retirados dos corpos mumificados, junto aos sarcófagos. Quatro vasos com as cabeças dos filhos de Hórus: quatro deuses associados ao culto funerário, os deuses que se acreditava acompanharem os mortos na sua viagem. Cada um deles, o guardião de um órgão, exceto o coração, que se acreditava ser a «sede do conhecimento» e não era por isso retirado do corpo. Imseti, com cabeça de homem, para o fígado, Hapi, de babuíno, para os pulmões, Duamutef, com cabeça de chacal, para o estômago, e Kebehsenuef, com cabeça de falcão, para os intestinos. 

Os quatro representados também neste sarcófago. Além da deusa Nut e de, segundo a descrição da peça, a morta diante de Osíris, e depois iluminada num leito, rodeada dos quatro vasos canopos. Representado está também pelo seu símbolo Abido, o maior centro de veneração do antigo Egito.

ladeado por Ísis e Néftis. Entre os vários textos inscritos no sarcófago, lê-se, por exemplo, em torno da base:  «Palavras ditas por Ísis, tua irmã. Ó Osíris Irtierut, justificada, filha de Padihor, justificado, senhora de veneração de Ré-Horakhti, deus grande, filha da dona de casa sua mãe, Tarenenutet, justificada, senhora de veneração de Ré». 

Na mesma sala do museu que conta toda a história da farmácia e da saúde no mundo, desde as mais antigas civilizações até aos dias de hoje, expõe ainda exemplares dos vários amuletos egípcios, como um escaravelho funerário com asas em faiança azul-cobalto, uma técnica descoberta no antigo Egito, colocado sobre o coração.