É talvez um dos jovens deputados mais carismáticos do PCP, mas ao fim de 13 anos abandona a Assembleia da República pelo «cansaço». Aos 38 anos, Miguel Tiago diz ao SOL que quer voltar à sua profissão, a de geólogo, ou pelo menos, ao mundo do trabalho. E assegura que foi ele que pediu para sair: «As tarefas que desempenhei, nomeadamente as últimas, levaram a um certo grau de cansaço». As comissões de inquérito ao caso do BPN e ao do BES, onde se destacou, levaram-no a um esforço suplementar. «Não é porque as tarefas sejam particularmente mais exigentes do que outras, mas não era a minha área e tive de apanhar o comboio muito rapidamente», confidenciou ao SOL no último dia de plenário da Assembleia da República.
A decisão de sair foi acertada com o PCP e não é recente. «É uma decisão pessoal, vista em coletivo, não impus a ninguém, nem ninguém me impôs. Eu sempre coloquei ao partido [que esta decisão] aconteceria quando fosse adequado e não de supetão», explica o deputado, que recebeu cumprimentos das várias bancadas parlamentares na hora da despedida.
Questionado pelo SOL se o acordo com o PS influenciou de alguma forma a sua decisão de sair do Parlamento, Miguel Tiago respondeu: «A situação é complexa, mas quaisquer questões colocarei no meu coletivo. Coletivo esse que, posso assegurar, todos os dias pondera porque temos todos consciência que a situação é difícil. Ainda não fizemos o balanço. Teremos de fazer ainda a apreciação. Sobre as decisões que tomamos, quando estão tomadas, estou confortável».
Ao fim de 13 anos de atividade parlamentar, mais de um terço da sua idade, Miguel Tiago faz o balanço e diz que sai com o sentimento de «dever cumprido» e a possibilidade de poder falar para muitas pessoas. «É revigorante», confessa. E assume que vai ter saudades da «sensação de que num momento ou noutro fomos capazes de expressar a posição do partido e defender os trabalhadores com a qualidade que essa mensagem merece, a mensagem do PCP».
Para o ainda deputado comunista existem dificuldades acrescidas em transmitir com resultados as posições dos comunistas. «A mensagem do PCP é difícil de passar porque é contracorrente, porque é muitas vezes contraintuitiva no contexto em que vivemos. Quando nós conseguimos, pelas nossas características, ou pela forma como as expomos, passar essa mensagem – e alguém nos vem dizer que foi eficaz –, isso é o que nos faz sentir honrados em ter estado na Assembleia da República».
O parlamentar já não volta em setembro, vai tirar um mês de férias e procurar alternativas «no mundo do trabalho», porém, assegura, não se despede da política. Ficará a dar apoio na área financeira ao Comité Central.
O seu sucessor tem menos 11 anos. Chama-se Duarte Alves, é economista e mestre em Economia e Políticas Públicas, curso concluído no ISEG. Duarte Alves foi dirigente da JCP e integrou o grupo de 40 jovens portugueses que participaram no festival mundial da juventude e dos estudantes em outubro de 2017, na Rússia. Segundo apurou o SOL deverá ficar com algumas pastas do seu antecessor, que lhe desejou «força» nas redes sociais, mal o PCP emitiu o comunicado oficial de substituição na bancada parlamentar.