Na véspera da final, o selecionador português deixou uma única prece: “Rezo para que o jogo não vá a penáltis.” Na mente de Luís Sénica estava ainda a final do último Mundial, disputado em setembro do ano passado, onde Portugal caiu perante Espanha no desempate por grandes penalidades. Pois bem: as orações de Sénica foram ouvidas… em parte. O jogo decisivo deste Europeu não chegou a novo desempate por penáltis, mas foi muito por aí que a Seleção nacional perdeu nova final frente a Espanha – os dois livres diretos e a grande penalidade de que Portugal dispôs e onde não conseguiu marcar fizeram toda a diferença nas contas finais: 6-3 para os espanhóis, que fizeram a festa em casa (a prova foi disputada na Corunha).
Em busca do 22.º título europeu – é o país mais titulado da competição – e ostentando o estatuto de campeão em título, após o triunfo conseguido sobre Itália (6-2) em Oliveira de Azeméis em 2016, Portugal entrou melhor na final, marcando logo aos três minutos por Gonçalo Alves, após bela iniciativa individual. Seria sol de pouca dura, porém: dois minutos volvidos e Jordi Adroher, hoquista do Benfica, empatou para a equipa da casa.
Começaria então o calvário português nos livres diretos: Gonçalo Alves foi derrubado na área, mas na conversão da grande penalidade não conseguiu bater o guarda-redes espanhol. Do outro lado, nova investida… e novo golo: desta feita, apontado pelo sportinguista Ferran Font. O mesmo Font acabaria por ver um cartão azul aos 14’, após desentendimento com Magalhães, mas Hélder Nunes nem acertou na baliza na marcação do livre direto. Portugal ficava a jogar em superioridade numérica durante dois minutos, mas não conseguiu aproveitar esse fator, e até ao intervalo seria novamente a equipa da casa a marcar, agora por Eduardo Lamas.
A tremenda ineficácia, que se manifestou em mais duas ou três ocasiões perigosas na primeira parte, acabaria por se manifestar no psicológico dos atletas portugueses, que entraram terrivelmente na segunda parte. Espanha aproveitou e marcou mais dois golos (Alabart, aos 32’, e Bargalló, aos 35’), conseguindo um parcial de 5-0 em nada condizente com a qualidade da seleção portuguesa.
Novo cartão azul para os espanhóis, no caso para Bargalló, ainda permitiu a João Rodrigues encurtar distâncias aos 38’ – e finalmente converter com sucesso um livre direto. Mas tudo voltaria ao normal dois minutos depois, quando o atleta luso, que irá trocar o Benfica pelo Barcelona na próxima temporada, falhou nova tentativa, no caso a castigar a décima falta espanhola. Era o fim das pretensões nacionais, até porque Font voltou a marcar para Espanha aos 42’ e praticamente encerrou as contas – Girão ainda defendeu um livre direto espanhol e João Rodrigues bisou, num dos últimos lances da partida, terminando a competição com 24 golos e a distinção de melhor marcador.
É o 17.º troféu europeu para os espanhóis, que se sagraram heptacampeões entre 2000 e 2012. Continuam, ainda assim, atrás de Portugal, que dominou na modalidade nas décadas de 40, 60 e 70. A seleção nacional já não vence um Campeonato da Europa disputado fora de território nacional desde 1996, quando triunfou em Salsomaggiore, Itália.
Em 2020 haverá duas divisões O percurso de Portugal neste Europeu, refira-se, foi absolutamente vitorioso até esta final. Os comandados de Luís Sénica venceram os seis jogos que disputaram: golearam Andorra (11-0), Suíça (7-1) e Áustria (15-1) na fase de grupos, batendo também a França (5-4), num encontro onde estiveram a perder por 4-1; nos quartos-de-final, triunfo claríssimo sobre a Inglaterra (14-2) do treinador português Carlos Amaral, antes de nova reviravolta para superar a Itália nas meias-finais – a perder por 2-1 ao intervalo, conseguiram marcar três golos e não sofrer nenhum no segundo tempo, vencendo por 4-2.
Os italianos, diga-se, acabaram a prova no terceiro lugar, depois de vencer a França por 5-2. Os franceses já tinham caído nas meias-finais às mãos de Espanha por claros 8-2. No jogo de atribuição do quinto e sexto lugares, a Suíça venceu Andorra numa partida muito equilibrada: 5-3, com quatro tentos de Gael Jimenez. Já a Alemanha goleou a Inglaterra por 12-6 e foi sétima, enquanto a Áustria, orientada por João Nuno Meireles, conquistou a liguilha de últimos classificados e acabou em nono ao bater a Holanda por 5-4, graças a uma reviravolta nos últimos cinco minutos.
O próximo Europeu, a disputar em 2020, será realizado em moldes diferentes. Segundo revelou Fernando Graça, presidente da Comissão Europeia de hóquei em patins (CERH), a competição terá duas divisões: a primeira com os seis primeiros classificados do Europeu deste ano e a segunda, denominada “campeonato challenge”, com os restantes seis. “Queremos muito que as equipas cresçam competindo, mas é importante pensar em mudar os regulamentos, porque não é bom quando equipas como a Bélgica ou a Holanda entram a sofrer goleadas como sofreram. É preciso criar um programa de desenvolvimento nestes países”, explicou o dirigente.