Se começou a ler este artigo há mais de três segundos, entretanto, uma rapariga com menos de 18 anos acabou de casar. Este é um dos dados do relatório divulgado esta semana pela UNICEF, que fala também sobre questões relacionados com o VIH e o sexo precoce.
Segundo um relatório, apresentado esta semana na Conferência Internacional sobre a SIDA, na Holanda, “todos os anos, 12 milhões de raparigas casam antes dos 18 anos – uma a cada cerca de três segundos”. De acordo com a organização, isto acontece em vários países, culturas e religiões.
“Muitas pessoas acham que o casamento protege [as raparigas] de doenças sexualmente transmissíveis. Mas este parece não ser o cenário para as noivas menores de idade”, lê-se no mesmo documento, que aponta ainda para as desigualdades entre géneros: “as raparigas adolescentes são desproporcionalmente afetadas pela epidemia da sida (…) De acordo com a UNAIDS [órgão criado pela ONU para o combate a esta doença], na África Oriental e Austral, jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos compõem 25% do total de infeções com o vírus do VIH no ano passado, apesar de serem apenas 10% da população”.
A UNICEF defende, aliás, que estes dados se devem à prática do ato sexual numa idade precoce. “A incapacidade de ter uma voz em assuntos relacionados com sexo e a falta de acesso a aconselhamento e serviços de despistagem confidenciais” colocam em causa a saúde destas raparigas, defende a organização.
O relatório ‘Mulheres: No centro da resposta ao VIH para crianças’ diz ainda que raparigas com idades entre os 10 e os 24 anos têm o dobro da probabilidade de contrair o vírus do VIH quando comparando com pessoas do sexo oposto dentro da mesma faixa etária.
Estes números surgem no mesmo relatório onde é descrito que, em 2017, por hora, cerca de 30 jovens entre os 15 e os 19 anos foram infetados com este vírus – destes, três em cada cinco são do sexo feminino.
“Estes valores representam "uma crise de saúde mas também uma crise de ação. Na maioria dos países, mulheres e raparigas não têm acesso a informação, a serviços ou até mesmo o poder de dizer 'não' a sexo desprotegido", diz a UNICEF.
O relatório revela ainda que, no ano passado, 130.000 crianças e adolescentes até aos 19 anos morreram de sida; 430.000 foram infetados pelo vírus.
Mas nem tudo são más notícias: o mesmo relatório dá conta de um progresso relativamente às crianças até aos quatro anos e às mulheres grávidas, visto que se trata de um vírus que é transmissível ainda durante a gravidez. Relativamente às crianças, o valor de casos de infeções caiu um terço entre 2010 e 2017. Para as mulheres grávidas, há uma nova esperança: com o apoio do órgão da ONU para o combate à sida, a UNICEF oferece a quatro em cada cinco mulheres tratamentos para o VIH.