Sabia que existe uma língua ‘artificial’? O esperanto não é nada mais, nada menos, do que uma língua criada para facilitar a comunicação entre todas as pessoas do mundo. Segundo a Associação Universal de Esperanto (UEA), fundada em 1908, esta invenção surgiu para melhorar as relações entre o ser humano, apesar das diferenças de nacionalidade, raça, sexo, religião, visões política ou, acima de tudo, diferenças na língua.
Foi há mais de um século, em 1870, que o oftalmologista polaco Ludwig Zamenhof ‘construiu’ o esperanto. Para isso, utilizou elementos dos ramos românico, germânico e eslavo das línguas da família indoeuropeia. O seu léxico deriva sobretudo de sete línguas – latim, francês, inglês, alemão, russo, polaco e italiano. Zamenhof vivia em Bialystok, uma cidade no nordeste da Polónia, que pertencia na altura ao império russo. Era uma zona onde várias comunidades conviviam, mas com pouca conversa: a falta de uma língua comum não ajudava a estabelecer um diálogo. Daí surge a ideia de criar uma língua universal, descrita pela primeira vez na obra Internacia Lingvo (Língua Internacional), um pequeno livro escrito pelo oftalmologista polaco, de acordo com a BBC.
O esperanto tinha o objetivo de ser a segunda língua do mundo, a única que se aprenderia para além do dialeto materno. E se, atualmente, a sua criação é vista por muitos como um fracasso, na altura, esta invenção foi encarada como uma evolução dos tempos modernos e um sucesso: em 1900, em Paris, chegou mesmo a ser apresentada como a linguagem do futuro. Para além disso, o esperanto passou a ser associado a uma elite: alguns dos falantes desta língua conseguiram ocupar cargos públicos importantes na Europa, era usada para pregar o evangelho na famosa Speakers Coner, em Londres, e Zamehof foi nomeado 14 vezes para o Prémio Nobel da Paz.
Impressionado? A história não fica por aqui: Amikejo, um território de 3,5 km entre a Holanda, França e Alemanha, foi o local escolhido para estabelecer o esperanto como o seu idioma e, segundo a linguísta Arika Okrent, no seu livro ‘A Terra das Linguagens inventadas’, 3% da população falava a língua, o que nunca foi conseguido em nenhum sítio.
A Segunda Guerra Mundial trouxe o fim da ‘era’ do esperanto e, segundo a BBC os filhos do inventor foram mesmo mortos em Treblinka, um campo de concentração.
Durante um longo período, o esperanto esteve proibido e, mais tarde, apesar de uma tentativa de reorganizar os falantes e voltar a apostar nesta união entre os povos, a língua universal nunca mais voltou a ganhar a força que tinha na altura em que foi criada.
Mas, afinal, como se aprende esperanto Se o objetivo era que todos o falassem, então o esperanto tinha de ser fácil de aprender. Existem 16 regras básicas e que, na teoria, cabem em uma ou duas folhas de papel. O SOL quis perceber melhor e, por isso, falou com uma professora que decidiu ensinar a língua, de forma gratuita.
Antónia Carvalho tem atualmente 78 anos e foi por volta dos 30 que teve o seu primeiro contacto com o esperanto, depois de encontrar um livro perdido de uma tia.
“A minha tia falava esperanto, mas ninguém na família sabia disso – foi algo que ela sempre escondeu de todos, já que durante muito tempo foi proibido, não só pela questão antinacionalista, mas porque podia ser uma forma de passar informações sem ninguém dar por isso”, contou ao SOL.
O que primeiro começou como uma graça acabou por se tornar uma das coisas mais naturais da sua vida. Foi preciso voltar a encontrar as revistas e livros antigos da tia para Antónia se dedicar a aprender a língua, sobretudo porque sentia que “não tinha a hipótese de aprender línguas de forma rápida e em pouco tempo” numa altura em que conciliava a carreira de médica com os cuidados prestados aos três filhos. O esperanto tinha tudo o que procurava – uma nova forma de comunicação, muito fácil e rápida de se aprender.
Mais tarde, propuseram a Antónia que ensinasse esperanto na Universidade Sénior, na Figueira da Foz, cidade onde mora, e esta, “de forma gratuita”, aceitou fazê-lo: “Qualquer pessoa que saiba esperanto ou aprenda uma nova palavra na língua quer partilhá-la”, disse ao SOL.
“Quando comecei, há muitos anos, tinha apenas uma aluna. Hoje são cerca de uma dúzia [12]. Uns vão porque realmente gostam, outros vão apenas porque é uma forma de passar tempo e estar ocupados”, disse a antiga médica.
Apesar de serem poucas as pessoas que querem aprender a língua e existirem cada vez menos jovens, Antónia garante que não pensa no futuro do esperanto: para ela, o mais importante, é “dar o melhor enquanto cá estiver” e saber que fez “o que podia”.
Antónia é uma das sócias da Associação Portuguesa de Esperanto e garante que o número de falantes é “incerto”, uma vez que existem vários autodidatas.
Se está interessado em aprender esperanto, existem várias opções: na internet, existem vários cursos disponíveis; se preferir aprender ‘offline’, existem cursos em vídeo; se gostar mais de aprender com outras pessoas, a própria Associação Portuguesa de Esperanto tem cursos anuais; pode também aprender de uma forma mais ‘solitária’ com recurso a um livro e um dicionário, aprendendo as regras e memorizando as palavras.
Bandeira Esperanto pode traduzir-se como “aquele que tem esperança” e a própria língua tem uma bandeira própria. É verde e branca, as cores da esperança e da paz. O emblema é uma estrela de cinco pontas, que representam os cinco continentes.
Reconhecimento pela UNESCO A UNESCO reconhece oficialmente o Esperanto como língua e recomenda o seu ensino. A Organização aceitou o número de 10 milhões de falantes de esperanto em todo o mundo.
Congresso de Esperanto Este ano, o Congresso de Esperanto realiza-se pela primeira vez em Portugal e começa este sábado, depois de, em 2016, na Eslováquia, numa reunião de esperantistas de todo o mundo, o nosso país ter sido eleito como o anfitrião da 103.ª edição do evento.
O evento realiza-se até 24 de agosto e a única língua autorizada é o esperanto.
Editado por Joana Marques Alves