O setor imobiliário continua a bater recordes. A procura não pára, os preços também não e essa tendência acaba por se refletir no negócio das principais maiores que operam no mercado nacional. A Remax e a Century 21 transacionaram 35.570 imóveis em seis meses, o que dá uma média de cerca de 196 imóveis vendidos por dia. A este número há que juntar as operações realizadas por outras mediadoras, nomeadamente a ERA que ainda não apresentou resultados e por particulares.
A Remax fechou o primeiro semestre com um volume de negócios na ordem dos 2 mil milhões de euros, o correspondente a 60,6% do total movimentado no ano passado. Nos primeiros seis meses de 2018, a mediadora transacionou 29.882 imóveis, sendo o valor gerado por estes 27,6% superior ao montante movimentado em igual período do ano passado, altura em que a imobiliária comercializou 1,6 mil milhões de euros.
De acordo com a mediadora, os investidores nacionais foram responsáveis por 84,2% das transações, seguindo-se os brasileiros (3,5%), franceses (2,7%), chineses (1,4%) e britânicos (1%). E a tendência é para manter com os portugueses a liderarem as transações. Já as tipologias de imóveis mais comercializadas são o T2 e T3 e Lisboa, Sintra, Cascais, Oeiras, Almada e Porto são os concelhos mais procurados.
No entender de Manuel Alvarez, presidente da Remax Portugal, estes resultados foram ao encontro das perspetivas. «2017 foi o nosso melhor ano de sempre, logo o desafio era bastante alto. Identificámos inúmeros indicadores no qual tínhamos que melhorar e traçámos um objetivo ambicioso, e os resultados do primeiro semestre não podiam ser mais animadores», refere ao SOL.
Já em relação ao próximo semestre, Alvarez acredita que «vai continuar a existir um crescimento moderado e saudável nos preços e transações dos imóveis, em linha com aquilo que se verifica em qualquer mercado dinâmico».
Atividade cresce mais de 30%
Já o volume de negócios da Century 21 Portugal aumentou cerca de 34% para os 462,1 milhões de euros. Por sua vez, o indicador correspondente ao volume de negócios total em que a rede esteve envolvida – considerando a partilha de transações com outros operadores – atingiu os 770 milhões nos primeiros seis meses do ano e cresceu quase 180 milhões de euros, em comparação com os 590 milhões€registados no semestre homólogo, do ano passado.
Entre janeiro e junho, a mediadora realizou 5688 transações de venda de imóveis, que correspondem a um crescimento de 17% face às 4844 realizadas no mesmo período do ano anterior. Já o valor médio dos imóveis transacionados por esta rede aumentou 11% para os 135,4 mil euros, quando comparado com a média nacional de 121,6 mil euros registada no período homólogo do ano anterior.
«Este indicador é, sobretudo, influenciado pelo acréscimo dos preços dos imóveis nos mercados periféricos – e nos segmentos médio e médio baixo – em consequência do aumento da procura de soluções de habitação nestas zonas», salienta a empresa.
Os imóveis mais vendidos a nível nacional são apartamentos de tipologias T2 e T3. A maior procura regista-se por parte das famílias portuguesas de classe média e incide, principalmente, em imóveis dos segmentos médio e médio baixo, tendo em conta a real capacidade financeira deste grupo demográfico.
Mas para o CEO da mediadora, a oferta existente continua desajustada da procura, sobretudo em termos das reais capacidades financeiras da classe média portuguesa, que é o principal segmento do mercado imobiliário em Portugal. Segundo Ricardo Sousa, «é nas periferias das cidades que se está a registar uma maior dinâmica de transações imobiliárias – onde o valor médio dos imóveis está mais ajustado ao rendimento disponível das famílias portuguesas – e também nestas zonas se começa a verificar um aumento dos preços, influenciado pelo incremento da procura», refere ao SOL.
E lembra que, de acordo com os indicadores da Century 21 Portugal, o intervalo de preços para aquisição de imóveis que é efetivamente desejado, pela maioria dos portugueses, situa-se entre os 75 mil e os 200 mil euros e o valor médio dos imóveis transacionados na rede, a nível nacional, fixou-se nos 135,4 mil euros, este semestre. Daí considerar que «é fundamental que os operadores privados estejam mais atentos às tendências do mercado, às necessidades e ao poder de compra das pessoas que pretendem comprar casa, para disponibilizarem soluções de habitação em linha com os critérios atuais da procura».
Aperto ao crédito podeter consequências
Numa altura em que o crédito à habitação está a dar fortes sinais de recuperação, os bancos portugueses tencionam avançar com «critérios de concessão mais restritivos». Pelo menos é esta a intenção manifestada por cinco bancos que responderam ao inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, conduzido pelo Banco de Portugal (ver coluna ao lado).
E os números falam por si: os bancos emprestaram, em maio, 815 milhões de euros para a compra de casa, um montante que elevou para 3784 milhões de euros o total concedido nos primeiros cinco meses do ano – o que representa o valor mais elevado desde o arranque de 2010. Já no crédito ao consumo, o crescimento é ainda maior, com o financiamento neste segmento a atingir em maio o valor mais elevado de sempre: 670 milhões de euros.
Para Carla Maia Santos, senior broker da XTB, estas restrições podem pôr um travão à bolha imobiliária. «Estas novas restrições levarão a uma diminuição da procura de imóveis para compra, podendo limitar a subida do preço das casas, com a diminuição da sua procura. No entanto, o mercado de arrendamento encontrará mais procura. Haverá uma transferência da procura de imóveis da compra para o arrendamento. Quem ganha são os proprietários já existentes», diz ao SOL.
As alterações que não parecem preocupar as mediadoras, uma vez que admitem que já praticavam várias medidas, nomeadamente a qualificação do cliente e da análise da solvabilidade.
«Haverá sempre um período de adaptabilidade, mas no caso do nosso grupo já praticávamos várias medidas sempre com a preocupação de que o cliente demonstrasse capacidade para fazer face sem sobressaltos ao serviço com dívidas. Representando assim uma continuidade no nosso trabalho», diz Manuel Alvarez.
Também a Century 21 diz que cerca de 60% das transações de venda são efetuadas com recurso ao crédito à habitação, para um financiamento inferior a 70% do valor do imóvel. «Estes dados levam-mos a acreditar que há bastante espaço para uma evolução positiva da concessão de crédito à habitação permitindo que mais famílias possam aceder a uma habitação ajustada às suas necessidades, com recurso a financiamento», garante Ricardo Sousa.
O responsável acredita que estas medidas poderão ter reflexos nos segmentos médio e médio baixo, onde prevê que os valores subam em consequência do aumento da procura e porque são segmentos que só agora começam a registar uma maior dinâmica. Já nos restantes segmentos prevê uma estabilização de valores.
Manuel Alvarez garante que preço resulta sempre da oferta e da procura, representando cenários diferentes nas diversas zonas geográficas do país: «Nos últimos anos não tem existido projetos de construção nova nas grandes metrópoles e litoral. Acreditamos que a oferta do novo produto e recente terá mais influência no preço do que propriamente as recomendações para o setor imobiliário».