Dilacerante questão, diríamos. Quem tem culpa de o PSD andar há tanto tempo a oscilar entre os 25 e os 27 % nas sondagens realizadas?
Ou, para ser mais direto, ainda, entre as décimas que acompanham o último número para cima ou para baixo?
A resposta imediata de quantos esperavam, convictamente, um salto maior é a de que as coisas não estão a correr bem, que o dr. Rui Rio não fala o suficiente, ou que, falando, não se ouve, ou que ouvindo-se se não entende, ou que, entendendo-se é acompanhado por um coro de discordantes, ou que , querendo ter credibilidade, aumenta a do primeiro-ministro por confusão.
Poucos se recordam da penosidade dos vários anos em que tal acontece.
A verdade é que, na raiz deste problema tão sério e profundo, está quanto aconteceu num período muito marcado.
O PSD foi o partido mais votado nas últimas eleições. E foi justamente depois disso que iniciou o seu caminho descendente.
O que esses anos fizeram de mal ao PSD é verdadeiramente extraordinário.
Não era o dr. Rui Rio o líder. Brilhava como um satélite. Tinha fases exatamente entre a Lua a caminho de ser cheia e a lua nova. Na maior parte do tempo encontrava-se em quarto.
Foi durante esse tempo que o partido encolheu nos inquéritos de opinião.
Ficou, aos olhos de muitos, não só responsável por tudo quando fez como por tudo quanto aconteceu antes.
Deu uma branca na História.
Ora isto é a prova provada da incapacidade política, por mais simpático que se pretenda ser.
Tem muito menos a ver com o sortilégio da união dos contrários do que com a sua insuficiência.
Na sua sombra, foi possível governar com desfaçatez, com meias verdades, com precipitados acordos.
As pessoas cansaram-se das certezas certas, da inevitabilidade.
Quiseram jogar no risco. Enganem-me que eu gosto, passou a ser a máxima.
E a verdade é que a recuperação de rendimentos, alguns exemplos de capitalismo popular ligados à especulação e aos rendimentos do turismo fizeram crescer o produto.
Tanto que alguns já o mencionam como desculpabilizador do constrangimento da despesa pública.
Se não era fácil o papel de Rui Rio, com a redução do desemprego, as notícias da substituição do endividamento por menores taxas e o défice encolhido, tudo ficou pior.
Abriu-se, então, a janela de oportunidade da dissonância dentro do poder.
Segundo a nova versão do PSD, o PS não seria definitivamente mau. Tinha era inconvenientes companhias.
E tentou afirmar uma linha patriótica. Não queria a perversão do poder. Estava ali e pronto para ser garante.
Foi o que o primeiro-ministro quis ouvir.
Dentro do PSD denuncia-se o possível concubinato.
Dos apoiantes comprometidos do Governo advém a pressão que o transforma cada vez mais no centro.
No PS o perfume das maiorias transforma-se em cimento.
O que resta ao dr. Rui Rio? Perder o medo das palavras, fazer perceber como o infinitamente bom foi péssimo, arrancar com coragem.
E, principalmente, quando tem uma oportunidade não ficar a falar de si e da sua justa luta pela credibilidade. Outros o deverão fazer por si.
Talvez, então, suba dos 27.
Talvez o país agradeça.