O progresso científico torna-se público através do anúncio das invenções e das descobertas realizadas por estudiosos que utilizaram métodos específicos tendo em vista a confirmação ou infirmação das suas hipóteses. A descoberta prende-se com a explicitação que leva à compreensão das realidades existentes, isto é, da revelação de algo até então escondido (encoberto), as invenções são respostas mais imaginativas e complexas destinadas normalmente à resolução de problemas que inquietam investigadores e não só. Investigadores, descobridores e criadores são os principais pilares do legado de conhecimento de sucessivas gerações da humanidade, sobre o qual se vai construindo o progresso.
Antes de Colombo chegar à América, em 1492, não existia uma ideia clara do que era uma descoberta, tendo ele tido o entendido que o termo a aplicar para o seu feito era o da descoberta de uma nova terra, pese embora o seu fito descobrir um novo caminho marítimo para a China, terra então conhecida. Mas não se descobrem só novas terras, também se descobrem novos caminhos para lá se chegar, bem como as condições especificas de vida que por lá existem.
O conceito de descoberta começou por estar limitado à atividade de navegação a caminho da Ásia (a Europa era o centro de conhecimento científico do mundo) muito associado à cultura dos seus protagonistas principais, os portugueses, cujo sucesso tornou o conceito de descoberta disponível para uso universal. Na verdade, a partir de 1421, na tentativa de encontrar uma rota marítima viável para chegar à Índia, os portugueses descobriram e demonstraram primeiro que as temperaturas atmosféricas das regiões equatoriais não impediam a sobrevivência humana, ao contrário do que era defendido pelos principais centros de conhecimento europeus da época.
Mas foi só a partir de 1504 que a palavra descobrimento passou a ter uso corrente na Europa, uso que foi influenciado pelos factos apontados e pela sua utilização numa carta de Américo Vespúcio. A partir daí, o vocábulo passou a ser significante em várias línguas (holandês, italiano, espanhol, francês, inglês e alemão) ganhando particular visibilidade no período entre 1551 e 1652. A palavra ‘descoberta’ aparece pela primeira vez com o seu novo significado na língua inglesa em 1554, e o termo ‘viagem de descoberta’ foi usado inicialmente por volta de 1574.
Em 1559 o engenheiro italiano Jacobus Acontius, usou a palavra descoberta, no primeiro pedido de patente feito para proteger um novo tipo de máquina por ele inventada. A pretensão de Acontius teve anuência das autoridades que sublinharam ser «…correto que os inventores sejam recompensados e protegidos contra os outros que querem ter lucros com as suas descobertas».
As descobertas geográficas foram o lançamento de novas etapas de descoberta, passaram a ser conhecidas novas plantas, novos animais, novas pessoas, novas doenças, percebendo-se então o enorme potencial de novidade associado às descobertas. As novidades passaram a apresentar-se como descobertas.
O que é inegável é que a descoberta robusteceu a ideia de rivalidade e de notoriedade. A competitividade reforçou-se como vetor comum da vida social, observando-se reações distintas às exigências associadas à competição. Sendo, pois, natural que se misture o uso de argumentação racional com a emocional ou mesmo se recorra a uma ética descontextualizada. Parece reerguerem-se novas ‘Colunas de Hércules’, pensemos nas gerações vindouras e fomentemos o gosto pela descoberta. Para já, o da descoberta da descoberta.