Nuclear. Europa desafia sanções dos Estados Unidos ao Irão

A chefe da Diplomacia europeia, Federica Mogherini, disse às empresas para ignorarem Washington

O aviso do presidente Donald Trump para os seus aliados europeus terem de escolher entre Teerão e Washington não caiu bem em Bruxelas. “Estamos a incentivar as pequenas e médias empresas, em particular, para aumentarem os seus negócios no e com o Irão num esforço que para nós é uma prioridade de segurança”, disse Federica  Mogherini, chefe da diplomacia europeia, à margem de uma viagem à Nova Zelândia. “Estamos a fazer o nosso melhor para manter o Irão no acordo, para o Irão beneficiar dos benefícios económicos que o acordo traz ao povo iraniano”. 

Washington e Bruxelas estão em rota de colisão sobre qual a melhor forma de lidar com o regime de Teerão. Depois de ter abandonado o acordo nuclear firmado  pela administração Obama, Trump entrou numa troca de palavras com o líder iraniano, Hassan Rouhani, no Twitter e avançou com sanções económicas contra o regime – que entraram em vigor na noite de segunda para terça-feira. Ontem, chegou a vez de ameaçar os seus próprios aliados europeus. “Quem continuar a negociar com o Irão NÃO irá negociar com os Estados Unidos”, escreveu o chefe de Estado norte-americano na rede social Twitter. 

Por sua vez, a Europa recusa retirar-se do acordo com o Irão e avançar com quaisquer sanções contra o regime. “Se há uma parte do acordo internacional sobre não proliferação que está a ser cumprida, então tem de ser mantido”, garantiu Mogherini. 

Num ato de desobediência ao seu aliado de sempre, Bruxelas instruiu as empresas europeias a ignorarem as declarações da Casa Branca. “Esta manhã o ‘estatuto de bloqueio’ da UE entrou em funcionamento para mitigar o impato da reimposição das sanções norte-americanas nos interesses das empresas europeias que fazem negócios legítimos com o Irão”, disse ontem um porta-voz da Comissão Europeia. 

A posição europeia é também partilhada pela China e Rússia, isolando ainda mais os Estados Unidos na arena internacional. 

O presidente iraniano caraterizou as sanções norte-americanas como nova ronda de “guerra psicológica” com o objetivo interno de ajudar os aliados de Trump a ganharem as eleições de novembro para o congresso. 

A posição de Washington está a mergulhar a sociedade iraniana na incerteza. “Existe um sentimento de angústia na sociedade iraniana – toda a gente está preocupada e à espera”, disse Sadegh Zibakalam, professor de Ciência Política na Universidade de Teerão, ao “Guardian”. “Não existe esperança de que a situação venha a melhorar. As pessoas pensam que o melhor cenário é não piorar. Vê-se entre a juventude uma enorme tendência para abandonar o país”.