Os intelectuais são sempre uma das forças motrizes da sociedade e, sabendo-o, o Partido Comunista da China (PCC) decidiu avançar com uma campanha nacional para “promover o patriotismo” num momento em que os meios intelectuais expressam opiniões divergentes da linha oficial do partido. O principal alvo são os professores e investigadores universitários, mas os empresários e funcionários públicos também vão ser incluídos.
O objetivo é simples: fortalecer a “orientação política” dos intelectuais e aproximar as suas “identificações políticas e ideológicas” com a linha que o partido único chinês definiu no último congresso. E foi precisamente esse o objetivo enunciado pelo “People Daily” na primeira página: “fazer com que a grande maioria dos inteletuais sejam mais determinados a seguir o partido”.
No entanto, nem todos concordam com a iniciativa. “Geralmente, o patriotismo é promovido quando não existe apoio ou coesão suficientes com a liderança do partido”, disse Zhang Lifan, especialista em história moderna chinesa, ao “South China Morning Post”. “‘Amar o país’ e ‘amar o partido’ sempre estiveram ligados”, acrescentou.
Há até quem diga publicamente que a campanha é uma reação à crescente liberdade no meio académico chinês, contestando a linha do PCC. “Muitas opiniões que antes não eram ditas em público estão a ser publicadas. Existem muitas preocupações sobre as políticas e a direção do país – alguns estão a apelar a mudanças e ao regresso das políticas de Deng Xiaoping”, disse Gu Su, professor de Filosofia e Direito na Universidade de Nanjing. “A mais recente campanha é uma espécie de resposta geral das autoridades às críticas de inteletuais”, complementou Chen Daoyin, analista político em Xangai.
Além da crescente independência dos académicos chineses, o país tem sofrido outras mudanças significativas. No último congresso do Partido Comunista, Xi Jinping conseguiu consolidar a sua liderança e remover quaisquer obstáculos à sua permanência indefinida, nomeadamente o limite de dois mandatos. Para alguns, Xi tem-se vindo a afastar progressivamente dos princípios advogados por Deng Xiaoping, como o da liderança coletiva e do modelo económico – a economia de mercado socialista.
“Já existiram muitas outras campanhas de propaganda no passado e os intelectuais cresceram com elas – a maioria irá esperar para ver como se desenvolve”, disse Gu Su.