O senado argentino recusou ontem à noite a legalização da interrupção voluntária da gravidez até às 14 semanas de gestação. Depois de horas de debate no órgão legislativo, 38 senadores votaram contra e 31 a favor.
Se dentro do senado a discussão foi acaladorada, no seu exterior milhares de manifestantes, tanto pró como contra a lei, reuniram-se para defender as suas posições. Com a notícia da derrota da lei, os manifestantes anti-aborto não esconderam a sua felicidade. "É uma alegria ver que a nossa sociedade se pode basear num princípio tão importante como a defesa dos mais indefesos, a criança", disse uma ativista ao canal britânico "BBC".
Os manifestantes pró-aborto terão de esperar pelo próximo ano da legislatura para poderem avançar com uma nova votação do projeto lei. Nos dias que correm, o aborto apenas é permitido na Argentina caso o bebé seja resultado de uma violação ou quando colocar em causa a vida da mãe.
A rejeição da lei comprova o poder que a Igreja Católica mantém no país. Padres e bispos desdubraram-se em missas e iniciativas várias para denunciar a lei de legalização do aborto. No sermão que proferiu durante uma missão, o cardeal Mario Aurelio Poli afirmou que o aborto "será sempre uma tragédia" e que está "longe de ser a solução", pressionando ainda os senadores para rejeitarem a lei ao pedir-lhes para "salvaguardarem o direito à vida, especialmente dos mais fracos e vulneráveis".
Hoje, na capa de um dos principais jornais argentinos, o Clarín, podia ler-se: "A Igreja, o jogador chave que conseguir impedir a lei". E poucas semanas antes da votação, o papa Francisco, natural da Argentina, não deixou de partilhar a sua opinião sobre o aborto, descrevendo-o como uma "luva branca" equivalente ao programa de eugenia da Alemanha nacional-socialista. "No século passado, o mundo inteiro ficou escandalizado pelo que os nazis fizeram para purificar a raça. Hoje, fazemos o mesmo, mas com luvas brancas", afirmou o Papa.