Pela primeira vez na história da Justiça norte-americana um tribunal da Califórnia condenou a multinacional Monsanto, uma das gigantes da indústria química e do setor agroalimentar, a pagar uma multa de 289 milhões de dólares (253 milhões de euros) a Dewayne Johnson, de 46 anos. O jardineiro, que durante anos usou os herbicidas Roundup e RangerPro, produzidos pela empresa e que contêm glifosato, acusou a multinacional de ser responsável pelo facto de ter contraído cancro e ganhou. Os médicos diagnosticaram-lhe um linfoma em 2014, com lesões a cobrirem-lhe 80% do corpo, segundo a CNN.
Johnson viu o seu caso ser julgado a uma velocidade diferente dos restantes casos por os seus médicos terem garantido às autoridades que o jardineiro poderia morrer antes do processo ter uma decisão. Após oito semanas de julgamento, o juri decidiu que a empresa agiu de forma “mal intencionada” ao saber que os seus produtos continham químicos que causavam cancro, preferindo ignorar os riscos para a saúde pública. “Quando se está certo, é muito fácil ganhar”, disse Brent Wisner, advogado de Johnson, em reação à decisão judicial.
A vitória de Johnson criou um precedente para milhares de casos semelhantes contra a Monsanto, que recentemente foi comprada pela alemã Bayer AG. Neste momento, existem mais de cinco mil casos idênticos contra a multinacional a correr nos tribunais norte-americanos. Wisner disse mesmo que esta decisão foi a “ponta de lança” para muitos outros processos.
Descontente com o veredito, a Monsanto já disse que irá recorrer da decisão, apesar de “simpatizar com Johnson e a sua família”. “A decisão de hoje não muda o fato de que mais de 800 estudos científicos – e conclusões da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, do Instituito Nacional de Saúde dos EUA e de agências reguladores por todo o mundo – afirmam que o glifosato não causa cancro, e não causou o cancro de Johnson”, pode ler-se no comunicado que a multinacional emitiu nos momentos a seguir ao anúncio da decisão do júri.
A empresa mãe da Monsanto, a Bayer AG, também veio a público garantir que mantém toda a confiança nos produtos da multinacional. “A Bayer está segura, com base na Ciência, nas conclusões de investigadores de todo o mundo e em décadas de experiência que o glifosato é seguro e não causa cancro se for usado como recomendado na embalagem”, disse um porta-voz da empresa à “BBC”. O glifosato foi criado pela Monsanto em 1974 e há décadas que é comercializado em todo o mundo.
Se a Monsanto argumenta com estudos, a verdade é que os seus críticos acusam-na de comprar estudos para defender os seus produtos cancerígenos. Em 2015, a Organização Mundial de Saúde chegou à conclusão que o glifosato tem potencial cancerígeno, sugerindo o seu abandono no combate às ervas daninhas.