«Noutros tempos, já estariamos a convocar uma comissão permanente na Assembleia da República por causa dos incêndios. Em vez disso, o PSD apresentou o novo cartão de militante». A frase é de um antigo dirigente do partido. E a crítica direta para o líder do PSD. Rui Rio foi de férias, mas o partido, aparentemente, não.
Na semana em que Pedro Duarte, antigo líder da JSD, disse estar disponível para concorrer já à liderança e em que Santana iniciou contactos com uma nova força política, a direção permaneceu inamovível no registo: não há comentários. José Silvano, secretário-geral, disse ao i que não o iria fazer, o mesmo fez Nuno Morais Sarmento, também vice do partido. A exceção foi Elina Fraga, vice-presidente de Rio, uma figura com vários anticorpos internos no PSD, por causa das suas posições no tempo do Governo de Passos Coelho, como bastonária da Ordem dos Advogados.
Ao SOL, Elina Fraga começou por dizer que não iria comentar entrevistas que não leu. Mas acabou por desvalorizar a disponibilidade de candidatura de Pedro Duarte. «É a silly season. Houve eleições no início do ano. Quem quis ser candidato apresentou-se e os militantes escolheram o líder que deu mais garantias de credibilidade. O percurso do Dr. Rui Rio tem sido de afirmação do interesse nacional, credibilizando a política e os políticos», disse ao SOL a vice-presidente de Rio.
Antigo líder da JSD e secretário de Estado da Juventude, Pedro Duarte decidiu marcar terreno para não deixar Luís Montenegro, antigo líder parlamentar do PSD, à solta, e perfilar-se como único a preparar terreno para uma candidatura após as Legislativas de 2019. Até ver, é este o calendário de Montenegro. E disse-o numa entrevista à SIC a 25 de julho. «Não me parece que possa haver congresso extraordinário antes das legislativas, nem acho que deva haver uma mudança de líder do PSD» . O que fará a diferença? A aproximação ao PS, com apoio político a António Costa. Ou seja, no Orçamento do Estado.
Por isso, vários militantes do PSD ouvidos pelo SOL preveem que Rio possa ser avaliado no natal. Tudo depende das distritais. Mas, por agora, não se antevê uma crise. «Para fazer sair um líder é preciso que as distritais de Porto, Lisboa e Braga estejam dispostas a isso», confidenciou um dirigente. Ora, as contas são favoráveis a Rio. Porto é liderado por um indefetível, Alberto Machado, José Manuel Fernandes, de Braga, já reconheceu ao SOL que será precisa alguma paciência para que a estratégia do líder tenha resultados. «Admito que as pessoas não tenham essa perceção. E não é um exclusivo do líder. É um trabalho de todos. E quando digo que é preciso paciência, quer dizer que é evidente, a cada dia, a ausência de trabalho do PS. E a ausência de trabalho [ do PS ] demora tempo a ser percecionado», declarou o líder distrital de Braga. Em Lisboa, a ordem é simples: trabalhar com Rui Rio. Militantes de Lisboa ouvidos pelo SOL alvitram que tudo depende do grau de insatisfação interna, mas as conversas de verão não passam pela mudança de liderança. Miguel Pinto Luz, antigo líder da distrital do PSD/Lisboa, já manifestou que tem ambições de concorrer à liderança. Nesta fase, resguarda-se e faz o discurso de unidade: «Está é a altura do PSD estar unido. Volvidos cinco meses da eleição do líder e da sua equipa, o PSD deve estar preocupado com os dois atos eleitorais- as europeias e as legislativas. E conta comigo para fazer campanha nas ruas».
Rio terá o seu primeiro teste à insatisfação interna nos discursos do Pontal, a 1 de setembro, e em Castelo de Vide, dia 9. Mas também no conselho nacional do partido, a 12 de setembro, nas Caldas da Rainha. A agenda oficial, já enviada aos conselheiros, tem três pontos: alterações ao regulamento eleitoral, alterações de estatutos e debate sobre a proposta de reforma da Saúde. Neste último ponto, o líder do PSD não quis arriscar. O debate não prevê a votação do documento que pode vir a ser mais uma frente de polémica. No jantar de encerramento da sessão legislativa, Rio lançou o desafio para se discutir o tema «complexos ideológicos».
Para tirar o líder de cena seria necessário que Rio tivesse um conselho nacional hostil, preparado para apresentar uma moção de censura. Mas será mais fácil ouvir críticas à atitude de Pedro Duarte, ao posicionar-se para uma candidatura. O conselheiro Luís Rodrigues, antigo deputado, desafiou-o « a explicar nos órgãos próprios ao que vem e porquê nesta altura, cinco meses depois da eleição de Rio». O desafio foi lançado pelo ex-deputado que mais atacou a anterior direção e não apoiou nem Rio, nem Santana Lopes nas diretas.