Imposto sobre emissões só com OE

Nos últimos meses as vendas de carros dispararam, com os portugueses a anteciparem-se à entrada em vigor da nova norma de homologação de emissões. Mas o Governo adiou o anúncio e só vai revelar os aumentos no OE.

A ‘corrida’ aos stands vai abrandar e os portugueses vão esperar por outubro para saber se vão ou não antecipar a sua decisão de comprar carro até ao final do ano. A garantia é dada ao SOL pelo secretário-geral da Associação Automóvel de Portugal (ACAP) e esta reação surge depois de o Governo ter anulado o impacto do novo sistema de medição de emissões de CO2 no cálculo do Imposto sobre Veículos (ISV), assegurando que os preços dos automóveis ligeiros não irão subir em função de um aumento da carga fiscal a partir de 1 de setembro. No entanto, como essa atualização em termos fiscais será conhecida em outubro, quando for apresentado o Orçamento do Estado para o próximo ano, a antecipação ou não da compra dependerá dos valores que serão apresentados. «É natural que alguns compradores se precipitem até ao final do ano depois de saberem concretamente qual será o valor desse aumento. Se for muito significativo é natural que prefiram comprar até dezembro do que esperarem por janeiro», diz Hélder Pedro. 

No despacho, agora assinado, o Executivo indica que «AT deve apresentar, no âmbito dos trabalhos de preparação do Orçamento do Estado para 2019, uma proposta de revisão das atuais tabelas de ISV e de IUC e das normas que consagram isenções fiscais condicionadas a limites de emissões de CO2, ajustando-as aos níveis de emissões decorrentes do novo sistema WLTP».

Recorde-se que o novo método de homologação comunitário das viaturas irá fornecer dados mais realistas sobre as emissões – o WLTP que irá substituir o NEDC, em vigor desde 1992 –, o que resultará numa subida da fatura fiscal. Com um controlo mais apertado sobre os dados de consumo e de emissões de dióxido de carbono agrava-se o valor do imposto a pagar. O SOL sabe que há casos em que esses aumentos poderiam atingir os três mil euros no caso dos veículos com motor 1.6 ou 2.0 turbodiesel. Já um carro a gasolina, como o Renault Clio, Volkswagen Polo ou Peugeot 208 – os modelos mais vendidos em Portugal –, poderiam aumentar entre 200 a 300 euros. 

Vendas subiram em julho

A verdade é que enquanto existiu este impasse assistiu-se a um aumento das vendas em julho na na ordem dos 14% em comparação com o mesmo mês de 2017. Foi a segunda maior subida do ano do mercado de ligeiros português, tendo sido registados 19.961 veículos. Apenas em abril registou-me um aumento mais expressivo (+14.1%) das vendas deste tipo de automóveis. Mas no acumulado do ano verificou-se um aumento de 6%.

No mercado automóvel total, foram matriculados 23.300 veículos em julho, mais 10,5% face ao mesmo mês de 2017. Entre janeiro e julho deste ano foram postos em circulação 179.735 automóveis novos, mais 6% em comparação com período homólogo de 2017.

A Renault, Peugeot e Fiat foram as três marcas mais vendidas no mês de julho. A Renault somou 21,3% para 2.595 unidades e reforçou o primeiro lugar na tabela; a Peugeot cresceu 11,4%, depois de ter registado 1.716 veículos; a Fiat disparou 72,1%, após ter vendido 1.582 veículos em julho. Estas marcas também ocupam os três primeiros lugares nos registos efetuados entre janeiro e julho. 

A Volkswagen que, no ano passado foi a terceira marca mais vendida em Portugal, caiu para o oitavo lugar. A marca comercializada pela SIVA em Portugal vendeu 9.352 automóveis nos primeiros sete meses deste ano, o que corresponde a uma quota de mercado de 5,29% (7,16% em 2017) e uma quebra de 21,6%.

No que diz respeito às marcas de luxo, foi vendido um Lamborghini em Julho, elevando o crescimento no acumulado do ano para 400% (5 unidades). A Ferrari cresceu 14,3% (16 unidades), a Porsche subiu 15,2% (152 unidades), a Maserati recuou 16,2% (31 unidades) e a Aston Martin desceu 66,7% (3 unidades).

Gasóleo em queda

Já a ameaça de restrições à circulação de carros a gasóleo em muitas das grandes cidades da Europa já se está a refletir nas vendas dos veículos a gasóleo em Portugal. Ao contrário do que acontecia em anos anteriores, em 2018 a comercialização deste tipo de veículos tem vindo a perder peso. Os números falam por si: nos primeiros quatro meses do ano, as vendas caíram 7,7% face a igual período do ano anterior, revelam os dados ACAP.

Até abril foram comercializados mais de 45 mil carros a gasóleo, um número que fica aquém dos quase 49 mil vendidos em igual período do ano passado.

A quota de mercado dos carros a gasóleo caiu para os 53,3% nos primeiros quatro meses deste ano; em 2017, no mesmo período, os diesel novos representavam 62,2%. Há apenas cinco anos, três em cada quatro carros eram a gasóleo (76,8%).

A opinião é unânime junto de vários especialistas: a tendência é para continuar a agravar-se. Um cenário que é refletido no relatório Cepsa Energy Outlook 2030, segundo o qual em 2030 apenas 15% dos carros novos em 2030 serão a diesel. Nesse ano, os carros a gasolina deverão representar entre 30% e 35% do mercado, ainda assim, abaixo dos 40,3% verificados entre janeiro e abril deste ano. A ganhar terreno estarão os híbridos (35%) e os elétricos (15%).

Em contraciclo está a venda dos carros elétricos. De janeiro a maio assistiu-se a um aumento de 196% na sua comercialização. Feitas as contas foram vendidos 1550 carros contra 524 carros comercializados em igual período do ano passado. Os dados são da Associação do Comércio Automóvel de Portugal .

Ainda assim, o secretário-geral da entidade reconhece que a quota de mercado ainda é reduzida. «Temos assistido a aumentos na ordem dos três dígitos, muito acima dos 100%. É um segmento que está em grande crescimento e no espaço de um ano passou de uma quota de mercado de 0,7% para 1,4%, ou seja, duplicou a sua quota, mas ainda é um valor reduzido», refere ao SOL Hélder Pedro.

O responsável admite que é previsível que continue a crescer. «Não há nenhum segmento no mercado automóvel que tenha crescimentos desta ordem», garantiu, mostrando-se otimista em relação ao seu futuro. 

«O principal problema dos elétricos é a sua autonomia, mas a pouco a pouco tem vindo a ser ultrapassado. A tecnologia está a evoluir muito e hoje em dia já estamos com uma autonomia muito superior face aquilo que se assistia há três ou quatro anos atrás», salientou Hélder Pedro.