A vida de Pedro Santana Lopes mudou radicalmente em menos de um ano. Quando muitos pensavam que estava menos agitado, Santana largou o confortável cargo de provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para se candidatar contra Rui Rio e seis meses depois desfiliou-se do seu PPD/PSD para criar um novo partido. Não é pouco para quem tem 62 anos e mais de 40 na política. No próximo mês e meio vai criar um partido de raiz, já está a trabalhar na nova força política, no grafismo, na declaração de princípios e, por fim, na recolha de assinaturas. Segundo apurou o SOL, Santana Lopes tenciona ter o trabalho completo até ao final de setembro, com as 7500 assinaturas recolhidas para entregar no Tribunal Constitucional.
Os últimos meses da longa vida política de Santana foram particularmente agitados. Decidiu, em outubro de 2017, depois de nomes como Luís Montenegro ou Paulo Rangel terem saído de cena, candidatar-se à liderança do PSD. Perdeu com 45,6% dos votos, mas não deitou a toalha ao chão e fez um acordo com Rui Rio que lhe permitia ter influência no partido. No congresso do PSD, há seis meses, garantiu ao novo líder que estaria «disposto a ajudar a ganhar as próximas eleições». Uns meses depois rasgou o acordo e bateu com a porta.
Os que o apoiaram assistiram perplexos a estas movimentações. «Fiquei chocado. Fiquei chocado e com alguma revolta», diz o ex-diretor de campanha, João Montenegro. Aqueles que participaram na campanha estão indignados pela forma como Santana geriu a sua saída do partido, apenas seis meses depois de se ter candidatado à liderança. «Fui diretor de campanha. Estive envolvido durante vários meses na campanha e não recebi uma chamada da parte dele com uma justificação, um argumento, uma tentativa de explicação para esta tomada de posição», acrescenta João Montenegro.
O ex-diretor de campanha garante que tem recebido dezenas de telefonemas de ex-apoiantes, entre mandatários distritais e autarcas, de pessoas que deram a cara por Santana na campanha e ficaram «feridas» com a atitude do ex-primeiro-ministro. «Recebi, nos últimos dias, inúmeros telefonemas de pessoas que entraram connosco no projeto e que estão um bocado de cabeça perdida. Deram tudo na campanha e seis meses depois têm de explicar à sua base de apoio que, afinal, aquele que defendiam para presidente está agora a sair do partido».
Santana Lopes deixa o PSD praticamente isolado. Nem os mais próximos o apoiam nesta nova etapa da sua vida. «É uma ideia, para mim, inconcebível. É uma pessoa que faz parte da história do partido», disse ao i Manuel Frexes, um apoiante de longa data. Ao SOL, Pedro Pinto, presidente da distrital de Lisboa, também deixa claro que não acompanha o amigo nesta aventura. «Estou apaixonado pelo PSD. São paixões de uma vida inteira».
A desilusão de alguns dos que o apoiaram há seis meses ficou evidente desde a primeira hora. O ex-secretário de Estado da Cultura, Barreto Xavier, mesmo antes de Santana Lopes formalizar a saída do partido, confessou que estava arrependido. «Sinto-me defraudado», escreveu, num artigo publicado no jornal Público.
Há, pelo menos, um militante do PSD que pensa de maneira diferente e vai acompanhar o ex-líder do partido. João Pessoa e Costa, autarca na junta de freguesia de Alvalade, desfiliou-se esta semana e vai «acompanhar o amigo de longa data na criação de um novo partido político». O SOL apurou que mais alguns autarcas sociais-democratas irão acompanhar Santana Lopes no novo partido e nas próximas semana deverão fazer chegar à sede do PSD o pedido de desfiliação.
Há espaço para um novo partido de direita?
A vida não tem sido fácil para os novos projetos políticos. Ao contrário do que aconteceu a seguir à crise noutros países europeus, Portugal continua a ser dominado pelos partidos tradicionais. O Livre de Rui Tavares ou o PDR de Marinho Pinto são exemplos de partidos que quase desapareceram depois de não terem conseguido eleger deputados. Manuel Monteiro é talvez o caso mais parecido com Santana. Deixou o CDS e criou o Partido da Nova Democracia, em 2003, mas nunca teve êxito.
«O novo partido não vai ter sucesso. Vai ser mais alvo de curiosidade mediática do que de apoio e adesão popular», afirmou Marques Mendes, no seu comentário, na SIC. João Montenegro também vê com «alguma dificuldade» que o novo partido de direita possa ter sucesso. «O novo Macron da politica portuguesa não é certamente alguém que tem 43 anos da politica ativa», diz.