Depois de um início de verão frio e chuvoso, as pessoas chegaram mesmo a duvidar que a estação mais quente do ano ia chegar a Portugal. Mas no início do mês, as dúvidas foram retiradas: o país começou a sentir o calor, com os termómetros a ultrapassarem os 40.ºC em várias zonas do país. E apesar de agora as temperaturas estarem amenas, a vaga de calor que se sentiu este verão pode deixar de ser estanha.
Segundo uma estimativa feita por dois climatólogos europeus – Florian Sévellec do centro nacional de investigação científica de França (CNRS) e Sybren Drijfhout da Universidade de Southampton e do Instituto de Meteorologia da Holanda – o período que se estende até 2022 vai ser anormalmente quente.
O estudo foi publicado na revista científica Nature Communications e os autores revelam o método estatístico desenvolvido: o objetivo é fazer uma estimativa da temperatura global da superfície assim como dos oceanos. E pelas contas feitas, os próximos quatro anos vão ser “mais quentes do que o normal”.
Os dois climatólogos procuraram encontrar situações semelhantes de vagas de calor que tenham ocorrido nos séculos XX e XXI, para concluir como serão os próximos quatro anos. Este método utiliza um algoritmo que faz as estimativas em segundos, ao contrário dos simuladores climatéricos em que é preciso uma semana para atingir os resultados.
Além das altas temperaturas, os autores do estudo concluíram também que a probabilidade de existirem episódios de frio intenso é muito reduzida. Mas por outro lado, a subida de temperaturas “vai reforçar também a tendência de longo prazo do aquecimento do planeta”, lê-se no artigo.
Por enquanto, o método dos climatólogos apenas pode ser considerado para médias globais, mas os cientistas querem adaptá-lo para previsões regionais e para tendências de precipitação e seca.
Altas temperaturas em Portugal
O dia mais quente dos últimos 18 anos, em Portugal continental, foi registado no passado dia 4 de agosto. Foram ativados planos de contingência e alertas vermelhos devidos às temperaturas extremas que se fizeram sentir em todo o país. Mas apesar dos esforços, a vaga de calor fez com que o número de mortes disparasse: no pico do calor – de 5 a 7 de agosto -, “houve uma variação diária, no conjunto, de mais de 500 óbitos registados”, afirmou a Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas.
De acordo com o IPMA, as temperaturas começam a subir novamente este fim de semana, mas não vão ultrapassar os 40.ºC em nenhuma zona do país.
Calor extremo no mundo
A Sibéria, conhecida mundialmente pelas baixas temperaturas, foi notícia no último mês por um fenómeno raro: os termómetros da região russa ultrapassado os 30.ºC. Segundo o Centro Hidrometeorológido da Rússia, o mês de junho, na Sibéria, foi o mais quente dos últimos 100 anos – os incêndios que deflagraram, nessa altura, na Rússia e nos países do hemisfério norte, são algumas das consequências dessa vaga de calor.
O Japão, a Suécia e o Reino Unido, são outras regiões onde é anormal verificarem-se altas temperaturas. No entanto, foram também recentemente afetadas pelas ondas de calor dos últimos tempos. No Japão, um duplo anticiclone – no Tibete e no Oceano Pacífico – foi a causa do calor extremo que provou a morte a pelo menos 80 pessoas.
Desde 2003 que a Europa não tinha registado temperaturas tão altas. Junho foi o terceiro mês mais quente nos EUA desde 1895, o quarto com temperaturas mais elevadas em África desde 1910 e o sétimo mais quente da Ásia desde que há registo.