A SIVA, subsidiária que representa as marcas do grupo Volkswagen, poderá não continuar a atividade. As dificuldades financeiras da SAG Gest – Soluções Automóveis Globais foram admitidas pela própria empresa, depois de se registar um agravamento dos prejuízos, para 10,1 milhões até ao mês de junho.
A empresa, liderada por João Pereira Coutinho, admite o «risco acrescido para o anormal desenvolvimento das atividades» e não esconde que está em causa a sustentabilidade do grupo, que poderá mesmo pôr em causa a continuidade «do negócio da subsidiária SIVA».
Na apresentação de resultados dos primeiros seis meses do ano, o grupo revelou que existem problemas graves de liquidez e destaca, entre outros pontos, uma forte «redução do volume relativo ao negócio de rent-a-car».
À procura de investidores, a empresa espera conseguir melhorar o cenário, mas também deixa claro que não existe qualquer garantia de que um acordo neste sentido permitisse «salvaguardar a continuidade do Grupo SAG Gest tal como presentemente tem vindo a operar nem garantia de que tal acordo venha a existir no futuro».
Olhando para as contas apresentadas pela empresa, há motivos vários de preocupação. As perdas registadas em junho do ano passado eram de 630 mil euros. Este ano, nos primeiros seis meses do ano, o grupo aumentou os prejuízos para 10,1 milhões de euros. As vendas sofreram uma grande quebra (2,3%), para 323,6 milhões de euros. Já no caso das vendas de marcas representadas pela SIVA, pode dizer-se que houve uma quebra de 27,6%. A Volkswagen caiu 22,5%, a Audi vendeu menos 36,4% e a Škoda menos 27,8%.
A somar a tudo isto, a SAG perdeu um quarto do valor em apenas dois dias. Depois de o grupo ter assumido que a SIVA atravessa uma luta pela sobrevivência, as ações registaram fortes quedas. Os títulos chegaram mesmo a recuar para mínimos do início do ano passado.
Na prática, ficou anulado o efeito que o anúncio da venda da SIVA tinha tido. Recorde-se que, em julho, quando o grupo fez saber que estava a tentar vender a subsidiária que representa as marcas do grupo Volkswagen, os investidores reagiram bem. As ações dispararam e, em pouco tempo, subiram mais de 38,5%.
Depois, vieram as reações ao anúncio dos prejuízos e começaram as quedas. Desde o primeiro dia de agosto, os títulos perderam mais de 30%.
Ao SOL, João Pereira Coutinho garante que, «neste momento, o que se pode dizer é que todo o trabalho está a ser feito no sentido de encontrar a melhor solução». Afastando as vozes que chegaram a pôr em questão de estarmos perante a queda de um império, Pereira Coutinho sublinha que «há ciclos em todos os setores e este também tem o seu. Basta olhar para o mercado para perceber que há sobreprodução automóvel e claro que os lucros têm de encolher». Ainda assim, o empresário assegura que «tudo está a ser feito para que continue a ser uma grande empresa».
A construção de um império
Em 2008, este era o nome do quinto homem mais poderoso da economia nacional.
Passados dois anos, falar de João Pereira Coutinho já era diferente. Ainda assim, entrava no top 20. Em 2011, tinha caído para 34 nesta tabela nacional.
A viver mais no Brasil do que em Portugal, começou a desinvestir em alguns dos negócios que tinha no país. Ainda assim, continuou a ser para muitos o dono de uma ilha em Angra dos Reis e de um Falcon 7X. Além disso, não deixou nunca de ser alguém que teve sempre os investimentos espalhados por vários setores de atividade.
Em 2011, João Pereira Coutinho era notícia por causa da AR Telecom. A operadora foi durante muito tempo uma promessa e uma grande aposta do empresário, que tinha como objetivo vingar no mundo das telecomunicações. No entanto, a empresa não convenceu os portugueses e o número de clientes começou a cair. Até que aqueles que ainda continuavam com os serviços começaram a receber cartas a anunciar que a empresa ia sair do negócio e a linha de apoio que era sugerida era da Zon, onde Pereira Coutinho tinha participação. Mais um negócio que afastava o empresário de Portugal.
Anos 80
João Pereira Coutinho nasceu no seio de uma família abastada e a história do sucesso é conhecida. Numa altura em que a representação da Volkswagen em Portugal estava em risco, Pereira Coutinho conseguiu fazer uma proposta à marca e ficou com o negócio. Foi nesta altura que fundou a SIVA. Depois, começaram os anos de ouro. O grupo SGC começou a ter negócios nas mais variadas áreas: agricultura, finanças, energia, etc.
Mas sempre foi no Brasil que mais ganhou destaque. Com negócios no imobiliário e em setores diversos. Aliás, Pereira Coutinho chegou mesmo a admitir, no ano passado, que a SGC iria faturar mais no Brasil do que em Portugal, no prazo de dois anos. Para isso, muito iria contribuir o alargamento nos negócios de finanças, telecomunicações e imobiliário. «O Brasil está muito positivo, com uma tendência forte de crescimento; a curto prazo, o grupo [SGC] é maior lá do que em Portugal», garantiu.
Com a SGC a controlar a UNIDAS, maior empresa brasileira de gestão de frotas, as perspetivas não podiam ser melhores. Mas nem só nesta área havia motivos para sorrir. De acordo com Pereira Coutinho, também a área de saneamento era uma das que estava em maior desenvolvimento. A atuar com a Brasan e Ecoagua, somaram-se concessões importantes para o grupo.
«Desde os 18 anos que estive sempre no Brasil. É um país onde estou completamente em casa, e há muita coisa para fazer», referiu o empresário, que foi eleito, pela Câmara de Comércio Luso- Brasileira, personalidade portuguesa do ano passado.
Na lista de devedores
Quando o tema dos grandes devedores voltou a fazer manchetes em praticamente todos os jornais, voltaram a falar-se de listas. Não daquelas em que a dívida é de 100 euros e o problema é de quem a tem, mas das que somam zeros e já representam um problema para o banco.
Com tema a ser tão sensível e com alguns bancos a argumentar que a relação com os clientes é sigilosa, ficou a saber-se menos do que se previa, mas ainda assim alguma coisa. Os primeiros números tornaram-se públicos com o ETRICC2. Esta análise foi feita aos planos de negócio e das carteiras de crédito dos grandes grupos. Juntos, em 2013, 12 dos grandes grupos económicos deviam 9 mil milhões de euros.
Nesta lista, aparecia a SCG e o dono da SIVA aparecia com uma dívida de 704 milhões de euros. Um dos maiores credores era o BCP, onde estavam em causa 309 milhões.