Os costumes e as causas fraturantes na política portuguesa

«Além de sobreviver, nós procuramos um desígnio, um propósito, uma finalidade». João César das Neves

Nas últimas semanas, o país político ficou a conhecer que Pedro Miguel Santana Lopes, ex-primeiro-ministro e ex-presidente do PSD, decidiu unilateralmente sair de militante do partido. 

E quase em simultâneo, ficámos a saber que irá criar um partido político novo. Independentemente das características que o mesmo venha a ter – movimento político, partido político, plataforma cívica –, o certo é que legalmente terá de cumprir o que a lei dos partidos políticos prevê. 

Ao mesmo tempo que conhecemos as razões da sua saída do PSD, ficámos também a saber algumas das partes principais da cartilha ideológica de Pedro Santana Lopes. 

Em relação a Portugal perante a Europa, em relação à política de alianças, em relação à economia e também em relação à organização da sociedade e aos chamados ‘costumes’ e ‘causas fraturantes’. 

E é sobre estes últimos pontos que neste momento importa referir. Apenas e só sobre isso. Porque em relação à sua saída unilateral do PSD e à decisão de criar um novo ente jurídico partidário, entendo não fazê-lo. Pelo menos, por enquanto.

Focando-me nos costumes e nas causas fraturantes, considero que Pedro Santana Lopes, a manter esta agenda e a ampliá-la na sua intervenção pública e política, irá dar um contributo positivo ao nosso país. 

Porquê? Porque, como já tive oportunidade de escrever e defender (e não apenas por escrito), nos últimos anos partidos políticos como o PSD foram longe de mais em relação às causas fraturantes e aos costumes. 
Longe demais no facilitismo de entrar em vários debates sem opinião clara sobre estas matérias, refugiando-se sempre na já gasta liberdade de voto. 

Isto aconteceu com várias lideranças partidárias e lideranças parlamentares. Desde o casamento homossexual à adopção por casais homossexuais, o aborto, a eutanásia, e muitas outras matérias. Que, ao arrepio do que seria normal num partido político como o PSD, de base e matriz social cristã, se deixou condicionar por agendas liberais e libertárias. Além de que nunca introduziu estas matérias nas várias campanhas eleitorais, nos seus programas e até nos programas de Governo. 

Julgo que fará todo o sentido que partidos políticos como o PSD, no curto e no médio prazo, não continuem no caminho da liberdade de voto nestes temas. Porque parece estarmos mais perante a situação de cataventos mediáticos do que de verdadeiros cultores da liberdade de voto. Salvo poucos exemplos, é isso que infelizmente temos visto.

Aliás, a propósito de matérias deste tipo, estamos ainda a viver um tempo que considero de ‘condicionamento político-mediático’ nas tomadas de posição de partidos estruturantes da nossa democracia. 

Sem pôr em causa os que verdadeiramente defendem com correção – e em nome de uma coerência de vida – as suas posições nestas matérias, muitos outros fazem-no em nome de uma simplicidade e de uma vontade de serem os ‘novos modernos’ e liberais de esquerda, que combatem os ‘retrógrados’ e homens e mulheres do ‘tempo das cavernas’. Aliás, a intolerância é grande por parte dos que nos querem impor permanentemente esta agenda relativamente aos costumes e às causas fraturantes.

Daí que, a manter a intenção de priorizar estes temas, Pedro Santana Lopes pode dar um sério contributo para travar esta espécie de euforia agendada, que está longe de ser entendida como prioritária pela maioria dos partidos e dos portugueses. 

O PSD deve, pois, ter uma abordagem diferente da que tem tido. Na forma e no conteúdo. E na opção mais fácil (de curto prazo) de dar liberdade de voto – correndo o risco de pagar um preço mais alto no médio e longo prazo. 
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