As forças do regime de Bashar al-Assad ainda enfrentam as últimas bolsas de resistência na Síria, mas nem por isso a Rússia, Turquia e Irão deixaram de começar a delinear o tabuleiro geopolítico pós-conflito na região. Aliado quase desde o primeiro momento de Al-Assad, o governo de Teerão assinou ontem um acordo de cooperação militar com Damasco, segundo a agência iraniana Tasmim. Não foram avançados pormenores, mas sabe-se que a delegação iraniana foi liderada pelo ministro da Defesa, Amir Hatami, com fontes a anunciarem que o governo iraniano não pretende retirar as suas forças da Síria no futuro próximo.
Ao mesmo tempo, Moscovo, Teerão e Ancara dão mais um passo de aproximação. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, encontrar-se-á com os seus homólogos russo, Vladimir Putin, e iraniano, Hassan Rouhani, a 7 e 8 de setembro, em Teerão, para continuarem as negociações sobre o futuro da Síria. Será a segunda vez que os três líderes se vão encontrar, depois do encontro de abril, em Ancara, enquanto as reuniões altos membros dos três governos se multiplicaram nas últimas semanas.
Enquanto o tabuleiro geopolítico da região é redefinido entre as três potências, a tensão entre os EUA e o Irão não dá sinais de diminuir. Ontem, o responsável pela marinha dos Guardas Revolucionários iranianos, general Alireza Tangsiri, sugeriu que Teerão poderá reagir com ações militares no Golfo Pérsico, bloqueando as exportações de petróleo de outros países, se Washington continuar a atacar as exportações iranianas de petróleo. “Podemos garantir a segurança do Golfo Pérsico e não há necessidade da presença de estrangeiros como os EUA, que não pertencem aqui”, afirmou Tangsiri. “Todos os navios militares e não militares serão controlados e haverá supervisão total do Golfo Pérsico”, continuou o líder militar, referindo que “a presença iraniana na região é física e constante, tanto de dia como de noite”. Pelo estreito de Ormuz, que liga o Golfo Pérsico ao Mar Arábico, passa um terço da produção de petróleo mundial.
Se altos responsáveis da administração Trump pretendem reduzir as exportações iranianas a zero, como relembra a Reuters, fragilizando a economia iraniana e incentivando uma mudança de regime, a estratégia iraniana parece não se limitar a ameaças de retaliação militar. O Tribunal Internacional de Justiça recebeu ontem um pedido de advogados iranianos para que a instituição exija aos EUA que levantem as sanções contra Teerão. Ainda que seja um tribunal da ONU para resolver disputas entre Estados, a verdade é que não tem qualquer poder para impor as suas decisões – e ambos os lados já ignoraram decisões da corte no passado.
“Os EUA estão a implementar publicamente uma estratégia para prejudicar tanto quanto possível a economia e as empresas iranianas e, consequentemente, os cidadãos iranianos”, explicou Mohsen Mohebi, advogado que representa o Irão no processo. “Esta política está a violar claramente o Tratado de Amizade de 1955”, assinado entre o Irão e os EUA, quando em Teerão mandava o xá Reza Pahlavi, colocado no trono por norte-americanos e britânicos, depois de derrubarem o primeiro-ministro Mohammed Mossadegh, democraticamente eleito.