Há uma política hostil do Presidente Donald Trump em relação ao regime iraniano, com a admissão pública de que os Estados Unidos estão interessados numa mudança de regime. O abandono do acordo nuclear com o Irão para impor novas sanções que façam abanar o Governo de Hassan Rohani transformaram o moderado Presidente no alvo de duras críticas dos conservadores.
O revés dessa dureza é a aproximação entre Irão e Rússia e entre os dois e a Turquia, aliados na guerra da Síria, apoiando as forças de Bashar al-Assad. No dia 7 de setembro, Vladimir Putin, Recep Tayyp Erdogan e Rohani encontram-se em Teerão para discutir o futuro da Síria. E a alteração do xadrez do Médio Oriente.
«O poder abomina o vácuo e na ausência de um liderança forte dos EUA na Síria, Rússia e Irão não se chatearam nada em dar um passo à frente. Demonstrativo do quanto passaram a dominar este conflito é o facto de serem as únicas grandes potências na cimeira» de Teerão, junto com a Turquia, como refere Chris Meserole, especialista em Médio Oriente da Brookings Institution, citado pela Newsweek.
«Os três estão preocupados com vulnerabilidades a longo prazo a movimentos secessionistas e radicais», escreveu recentemente Robert G. Rabil no Washington Post. Não admira que os governos russo e iraniano tenham reagido rapidamente aquando da alegada tentativa de golpe de Estado na Turquia, manifestando o seu apoio a Erdogan. Ao contrário dos EUA, acusado por Ancara de albergar o cérebro por trás do complot para o derrubar, o clérigo Fethullah Gulen, em tempos aliado do Presidente iraniano que vive no exílio norte-americano.
Putin fez saber que os conflitos russo-iranianos ficaram no passado e transformou o alinhamento na questão síria numa aliança estratégica, económica e política e mesmo militar, com a Rússia a vender mísseis terra-ar S-300 ao Irão.
A ala mais conservadora iraniana aproveitou o revés trazido pela saída norte-americana do acordo nuclear para atacar com força Rohani. Em vez do prometido futuro radioso, a economia está em crise, a moeda de rastos, o país sob novas sanções e com mais prometidas para novembro. Teerão abdicou do seu programa nuclear (com base em tecnologia russa) para melhorar a sua economia, se esta não melhora, que razão tem o Irão para o continuar a cumprir?
O chefe de Estado foi chamado ao Parlamento para explicar isso mesmo, ao mesmo tempo que os deputados desencadeavam o mecanismo para substituir o ministro das Finanças, Masoud Karbasian, votado favoravelmente no plenário, num claro sinal de que Rohani tem pouca margem de manobra para seguir defendendo o acordo nuclear, como deseja a Rússia e os outros signatários (França, Reino Unido, Alemanha e China).
Ali Khamenei, o líder supremo do Irão, figura de referência da ala mais conservadora veio a público dizer que «o acordo nuclear é um meio, não o objetivo, e se chegarmos à conclusão de que não serve os nossos interesses nacionais podemos abandoná-lo».
A Rússia até poderia beneficiar do fim do acordo, dizem analistas, mas no panorama geral a ideia é que Moscovo, politicamente, e as empresas russas, economicamente, têm muito mais a perder. Devido aos laços fortes entre as grandes companhias energéticas russas com o Ocidente, estas viram-se obrigadas a diminuir substancialmente a sua presença no mercado iraniano desde que Trump decidiu que os EUA se retirariam do acordo e voltariam a impor sanções ao Irão e a todas as empresas e Estados que tenham relações económicas com o país.