Finda a primeira janela da nova competição de seleções criada pela UEFA, há já algumas primeiras ilações que se podem tirar sobre uma prova pensada basicamente para tentar aumentar as receitas dos encontros de seleções nos hiatos entre as grandes competições internacionais, ao mesmo tempo que confere aos jogos “amigáveis” um cariz mais oficial.
Por agora, uma grande (enorme!) surpresa: a Croácia, vice-campeã mundial desde o passado mês de julho, foi trucidada (0-6) pela mais ou menos renovada Espanha de Luis Enrique. É verdade que a Roja é um dos colossos mundiais, mas longe vão já os tempos da equipa demolidora que venceu os Europeus de 2008 e 2012 e o Mundial de 2010. Ou pareciam ir, porque este 6-0, aliado ao 2-1 à Inglaterra (quarta classificada no último Mundial) em Wembley três dias antes, deixa pouca margem para dúvidas: Espanha está de volta e tem de ser encarada novamente como séria candidata a vencer o Euro 2020.
Nos primeiros passos como selecionador espanhol, Luis Enrique tem apostado numa base de jogadores do Real Madrid, ao contrário do que acontecia num passado recente, onde era o Barcelona quem dominava – na final do Mundial 2010, por exemplo, seis jogadores da Roja eram blaugrana e em 2013, num particular com o Uruguai, chegaram a ser nove. Piqué e Iniesta disseram adeus após o último Mundial, é um facto (e o médio até já nem joga no Barça), mas Jordi Alba, por exemplo, foi ausência notada na primeira convocatória do novo técnico… que até treinou o lateral-esquerdo no Barcelona de 2014 a 2017. Dos catalães, nesta lista, só dois nomes: Sergio Busquets e Sergi Roberto. E o cenário não parece perto de melhorar, dada a escassez de espanhóis selecionáveis no atual conjunto blaugrana, cada vez mais recheado de qualidade… estrangeira.
“A base é do Real Madrid e parece-me bem”, disse Luis Enrique após o encontro com a Croácia, onde alinharam seis merengues (Carvajal, Sergio Ramos, Nacho, Isco, Ceballos e Asensio) – não se via tal coisa há 16 anos. E completou a ideia: “Eu só vejo camisolas vermelhas.” Por agora, está a correr às mil maravilhas.
Pelo contrário, a semi-renovação da Croácia não parece estar a ser tão bem sucedida. Subasic, Mandzukic e Corluka retiraram-se da seleção após o Mundial, com Strinic a suspender a carreira por problemas cardíacos, e os “reforços” não mostram para já estar ao mesmo nível. Será preciso melhorar muito para voltar ao patamar da equipa que maravilhou o mundo na Rússia, há pouco mais de dois meses.
Com os olhos no Europeu Para já, Espanha é a seleção da Liga A que está mais próxima da final-four: soma seis pontos, contra os zero de Inglaterra e Croácia – que, ainda assim, fizeram apenas um jogo. À Roja basta apenas empatar os dois jogos que lhe faltam (receção à Inglaterra e visita à Croácia), mas pode até conseguir o apuramento já no jogo com os ingleses, a 15 de outubro, caso o encontro entre Inglaterra e Croácia, três dias antes, termine empatado.
Para a fase final (disputada de 5 a 9 de junho do próximo ano), que ditará o vencedor da prova, apura-se apenas o primeiro classificado de cada um dos quatro grupos: por agora, além dos lançados espanhóis, destacam-se a França no grupo 1 (quatro pontos em dois jogos, após o 0-0 com a Alemanha e o 2-1 à Holanda), Suíça no grupo 2 (soma os mesmos três pontos da Bélgica, mas lidera por golos, pois venceu a Islândia por 6-0, enquanto os belgas “só” ganharam 3-0) e Portugal no grupo 3 (três pontos, referentes ao triunfo sobre a Itália por 1-0 na última segunda-feira).
Os italianos, de resto, estão para já numa posição complicada: o empate caseiro com a Polónia, aliado à derrota na Luz, deixam-nos para já no último lugar do grupo. Se a competição acabasse neste momento, Itália descia para a Liga B, tal como a Holanda, a Islândia e… a Croácia.
O lugar que cada equipa ocupará na classificação final terá grande importância para definir quem ficará com a vaga no próximo Europeu. As equipas com melhor ranking no fim desta competição que não conseguirem o apuramento pela via normal (fase de qualificação) disputarão depois uma final-four, com o campeão a garantir assim um bilhete para o Campeonato da Europa que terá lugar em 12 cidades de países diferentes.
O sonho dos pequeninos Um dos grandes aliciantes desta Liga das Nações é precisamente o facto de haver um lugar reservado no Europeu para uma equipa de cada uma das ligas, o que significa que pelo menos uma equipa da Liga D, onde teoricamente estão as seleções mais fracas da Europa, terá a possibilidade de participar na maior competição continental de seleções.
Na Liga B, onde se podem encontrar equipas com bastante estatuto, como a República Checa, a Rússia, a Suécia ou a Dinamarca, são a Ucrânia e a Bósnia a ir já disparadas para a final-four, com duas vitórias noutros tantos jogos. Aqui, o “grupo da morte” é mesmo o 2, com Rússia, Turquia e Suécia: uma delas acabará despromovida à Liga C… onde as seleções categorizadas já escasseiam: Grécia, Sérvia e, com muito boa vontade, Hungria, Bulgária e Roménia serão as únicas que se enquadram nesse estatuto. Finlândia e Bulgária venceram os dois encontros que realizaram, com a Eslovénia a desiludir: perdeu na receção aos búlgaros… e em Chipre (ambos por 2-1).
Para quem aprecia o futebol alternativo e as histórias de contos de fadas no desporto, a Liga D é a que encerra mais expetativas. Ali só há seleções com reduizida (ou nula) expressão internacional… e uma delas estará garantidamente no Euro 2020. Para já, Geórgia, Luxemburgo e Macedónia vão assumindo essa candidatura de forma bastante acirrada. Geórgios e macedónios não parecem ter concorrência à altura nos grupos 1 e 4; os luxemburgueses, por seu turno, somam duas goleadas (4-0 à Moldávia e 3-0 a São Marino) mas jogam “a vida” na próxima ronda, a 12 de outubro, na deslocação à Bielorrússia, que goleou São Marino (5-0) mas não conseguiu sair do nulo na visita à Moldávia.