Com uma carreira tão cheia, pioneira em algumas coisas, defensora do direito das mulheres, custa-lhe quando as pessoas a identificam como a mãe do primeiro-ministro António Costa e não como Maria Antónia Palla?
Acho que são parvos. Também sou, nunca reneguei o meu filho [risos], assim como, penso, ele nunca me irá renegar a mim. Eu acho que ele respeita as minhas ideias. Gosto muito do meu filho e não quero misturar as coisas. As pessoas devem ter uma ideia um bocado mirífica do poder porque muitas vezes sou abordada na rua, sobretudo por mulheres, que vêm ter comigo e me dizem ‘ah deve ter grande orgulho com o filho que tem’. Bem, é melhor dizerem isso do que dizerem que o meu filho é um grandessíssimo malandro, e isso nunca ninguém me disse. Fico tão embatucada e acabo a responder: ‘sabe, o meu filho é o meu filho, pare ele só desejo que tenha saúde e seja feliz’. Ele é muito inteligente, muito trabalhador e em qualquer coisa que se envolva será útil, será notado, mas não necessariamente por ser primeiro-ministro.
E pedem-lhe para transmitir recados ao primeiro-ministro?
Isso tentam, mas digo logo, ‘não, não, eu não falo dessas coisas com o meu filho’ e não falo mesmo. Eu nem sequer tenho o número de telefone dele.
É ele que tem de falar consigo?
É ele que fala comigo. Porque sou a mãe dele [risos].
E ele fala muitas vezes consigo?
Coitado, ele não tem tempo.
Mas telefona-lhe?
Telefona, mantemos relações familiares sempre muito calorosas.
Quantas vezes por semana é que ele lhe telefona?
Isso não posso contar às semanas [gargalhada]. Ele está sempre ocupado com tantas coisas. Mas se alguma coisa me acontece, no aspeto da saúde, está sempre presente. Agora, com os meus assuntos e os meus problemas, não pode perder tempo. Aliás, ele resumiu isso, numa entrevista, com uma frase, de que eu sou uma pessoa demasiado livre e ele cita em espanhol ‘hay Gobierno? soy contra’.
E é verdade? É contra este Governo?
Achei uma solução interessante, mas nada dura nada, ou não dura o tempo suficiente para que a gente veja se é possível mudar o que tem de ser mudado. Há um distanciamento da classe política da vida quotidiana, do povo, e acho que isto exige uma mudança da lei eleitoral, de forma a que os eleitos estejam mais próximos dos eleitores e vice-versa.
As pessoas votarem não no partido, mas no seu próprio deputado…
E esse deputado tem de dar contas. Eu percorri Portugal várias vezes, em trabalho, e continuo a ter muita curiosidade pela vida das pessoas, saber quem são, como vivem. E o que eu acho é que quando o Governo anda por Portugal, mesmo o Presidente da República, são viagens organizadas para mostrar o melhor. E o resto? Não pode ser organizado, tem de se ir sem que estejam à espera, ter a capacidade de falar com as pessoas – perceber o que as pessoas realmente querem.
Acha que o seu filho também está assim afastado das pessoas?
O meu filho , tal como o Presidente da República, tem grandes qualidades de comunicação com as pessoas, mas é a maneira como as coisas se organizam. Olhe, é como os jornais, que perderam muito ao ficar sem correspondentes, estão todos falidos. Chega-se a um sítio, ouve-se uma versão e já está. Eu sempre fiz o contrário. Preferia ganhar menos e estar em revistas que me davam a possibilidade de fazer coisas com tempo, como o Século Ilustrado, que foi a minha revista preferida, o sítio de trabalho mais agradável…
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