De há uma semana a esta parte, respira-se um novo ar no Sporting. A vitória de Frederico Varandas nas eleições de dia 8 trouxe (para já, pelo menos) paz e tranquilidade a um clube que nos últimos anos se habituou a viver em constante turbulência – quase sempre provocada internamente.
No dia seguinte, ao ser investido oficialmente como 43.º presidente da história do clube leonino, Varandas voltou a frisar a ideia central da sua candidatura. «Ontem começámos a vencer o adversário mais terrível que já tivemos em toda a nossa história: o Sporting fraturado. Enquanto não formos realmente unidos, não nos vamos conseguir bater com os nossos rivais», ressalvou, afirmando novamente estar perante a «missão mais importante» da sua vida.
E isto, dito por um capitão do Exército que em 2008 passou seis meses em missão no Afeganistão, não é coisa pouca. No Sporting, foram sete os anos em que Frederico Varandas, formado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa e com Formação Complementar em Saúde Militar, fez parte da mobília: chegou em 2011 para médico da equipa de juniores, mas passou a liderar o departamento clínico do clube pouco depois, após a saída de José Gomes Pereira. Apresentou a demissão a 20 de maio deste ano, logo após a final da Taça de Portugal em que o Sporting foi derrotado pelo Aves, e na sequência do ataque à Academia de Alcochete, cinco dias antes, justificando o pedido com «episódios desviantes» e dizendo não se rever na «faceta autocrática e sectária» do presidente, Bruno de Carvalho.
Na primeira reação após ser eleito, aliás, Frederico Varandas lembrou essa final da Taça, cuja medalha de vencido carregava no bolso. «Prometo que, a esta medalha, vou juntar a taça de campeão nacional mais tarde ou mais cedo. É uma missão que vou cumprir até ao fim», disparou emocionado, terminando ainda com nova farpa ao seu antecessor: «Eu nasci Sporting, cresci Sporting, respiro Sporting mas não sou o Sporting. A minha missão é servir o Sporting Clube de Portugal e a minha prioridade e da minha equipa é unir o Sporting Clube de Portugal».
Ações disparam
Aos 38 anos, Frederico Varandas, irmão de um antigo vogal do Conselho Diretivo leonino no mandato de Godinho Lopes (João Pedro Varandas), acabou por conseguir chegar à ‘cadeira de sonho’, ganhando o direito a suceder oficialmente a Bruno de Carvalho. Com 42,33 por cento das preferências de voto, bateu João Benedito (36,8), José Maria Ricciardi (14,5), Dias Ferreira (2,35), Fernando Tavares Pereira (0,88) e Rui Jorge Rego (0,44) no ato eleitoral mais concorrido da história do clube: 22510 votantes. Curiosamente, João Benedito até teve mais mil votos, mas os sócios com direito a 8 ou mais votos acabaram por fazer a diferença a favor da Lista D, encabeçada por Varandas.
E o novo presidente não demorou a pôr mãos ao trabalho. Recebido na quarta-feira por Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, reuniu no mesmo dia com os funcionários do clube e também com a estrutura diretiva, que contará a partir de agora com os antigos internacionais Beto (’team manager’) e Hugo Viana (diretor de relações internacionais). Ao plantel profissional orientado por José Peseiro apresentou-se no dia seguinte – não o fez antes devido à ausência dos vários jogadores que estiveram em representação das respetivas seleções.
Para já, até na bolsa a mudança diretiva no Sporting já se vai fazendo sentir. Logo na segunda-feira, as ações da SAD leonina valorizaram mais de 17 por cento – a maior subida em quase um mês e que fez da SAD do Sporting a líder dos ganhos na praça portuguesa. Pela frente, além das questões desportivas, o novo presidente leonino terá ainda de se preocupar com a vertente financeira: é que, a 30 de junho, a SAD leonina apresentou prejuízos na ordem dos 19,9 milhões de euros e com capitais próprios negativos de 13,3 milhões de euros, o que constitui um cenário de falência técnica.
Bruno de Carvalho internado
Pelo meio, ainda a sombra de Bruno de Carvalho a pairar sobre o céu verde-e-branco. O único presidente do Sporting a ser destituído em 112 anos de história acabou por não avançar com o pedido de impugnação do ato eleitoral, mas recorreu, na véspera do mesmo, ao Facebook para acusar Frederico Varandas, José Maria Ricciardi, Rogério Alves e Jorge Jesus de terem sabotado a época desportiva e levar o Sporting a terminar em quarto lugar de forma premeditada.
O ex-presidente leonino acabaria por dar entrada no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, ao fim da noite de sábado devido a uma intoxicação medicamentosa, acabando por receber alta por volta das seis da manhã de domingo.