Juan Emanuel Baptista tem 20 anos e já teve de enfrentar algumas barreiras que a vida lhe colocou. Na semana passada o seu nome invadiu os órgãos de comunicação social pelas melhores razões: entrou no curso de Engenharia Civil na Universidade da Madeira com uma média de 18,94 valores. Um feito que, de acordo com os dados divulgados no passado domingo pela Direção-Geral de Ensino Superior, colocou a Universidade da Madeira no pódio da lista dos cursos com nota de entrada mais alta, passando a instituição a ocupar o primeiro lugar no ranking.
Apesar de ter sido o único a candidatar-se, este é um plano B. Depois de no ano passado ter entrado no Instituto Superior de Tecnologia e feito um semestre na capital, Juan Emanuel viu-se obrigado a desistir porque não tinha possibilidades financeiras para pagar a sua estadia em Lisboa.
Sempre sonhou em ser um engenheiro civil e de estudar no Instituto Superior de Técnico. Depois de ter acabado os dois anos de secundário que lhe faltavam no Funchal com boas notas, o sonho tornou-se realidade. No ano passado fez as malas e voou da ilha para o continente para começar a frequentar uma das mais conceituadas universidades do país na área das engenharias. Estava confiante de que a bolsa a que se tinha candidatado o iria ajudar a pagar o alojamento na capital. Mas o cenário foi bastante diferente do que tinha imaginado: Juan teve de regressar à Madeira porque não tinha como pagar o quarto em que estava hospedado em Lisboa. «Pedi a bolsa assim que entrei, mas só comecei a receber informações sobre o processo depois de ter passado todo o primeiro semestre. Falei com professores, falei com o Técnico, mas eles não podiam fazer muito mais enquanto o processo não estivesse concluído», contou o jovem ao Diário de Notícias, adiantando que até receber a bolsa não tinha como pagar a renda. «Um quarto a 400 euros era impossível para mim». Foi aí que decidiu visitar a residência da universidade, mas a hipótese foi logo riscada da lista, porque ter de partilhar o seu espaço com um desconhecido. «Sou muito tímido e preciso do meu espaço. Portanto fiz a minha escolha e voltei para a Madeira». Inicialmente «foi uma situação muito revoltante (…) e de grande impotência porque eu não podia fazer mesmo nada», descreveu.
De regresso à Madeira, fez o segundo semestre na universidade e este ano pôde voltar a candidatar-se. Agora espera que as disciplinas que fez no ano passado passem a equivalências para conseguir seguir para o segundo ano. Por enquanto, Juan Baptista vai viver com a mãe e os avós e continuar a lutar pelo seu sonho: construir pontes.
À Lusa disse que se sentia «muito bem» por ter sido o único aluno a entrar no curso pelo «contingente nacional», mas admitiu que já teve conhecimento de que «existem mais alunos, sobretudo oriundos da África do Sul».
Da Venezuela para a Madeira
O futuro engenheiro é filho de pais portugueses, mas nasceu e viveu quase toda a sua vida em Miranda, um dos pequenos estados da Venezuela. Contudo, acabou por se mudar para Caracas, juntamente com os seus pais e avós, onde viveu durante quatro anos.
Depois de a situação económica e política se ter agravado, Juan Baptista viu-se obrigado a deixar o país e a regressar à terra natal dos seus pais e avós: a Madeira.
Ao DN contou que se mudou para a Camacha, no concelho de Santa Cruz, Madeira, em 2015, juntamente com a sua avó. Só depois é que mãe e o avô se juntaram a eles no Arquipélago. No entanto, o seu pai e os dois meios-irmãos ainda estão a morar na Venezuela. Ir viver para a Camacha não foi um choque porque «não tinha vivido assim tanto tempo em Caracas» e, por isso, já «estava habituado a uma terra pequena e pacata», confessou.