«Quando alguém está no chão não se bate mais».
Mahatma Ghandi
Eis um tema que divide as sociedades contemporâneas. E que nos coloca perante um problema grave, que poucos querem perceber, e sobretudo assumir e enfrentar.
Em muitos aspetos, as ‘novas ignorâncias’ são problema mais grave do que o analfabetismo e a iliteracia, e tem de ser enfrentado com coragem. As ‘ignorâncias antigas’ tinham raízes e fundamentos diferentes das ‘novas’. Espelhavam várias ‘necessidades’, vários ‘obstáculos’, e acima de tudo uma ‘falha’ ao nível da satisfação das necessidades coletivas de bem-estar e de cultura, indispensáveis à vida do cidadão comum.
As ‘novas ignorâncias’ têm uma raiz diferente. Assentam em muita ‘ilusão’ e também em muita ‘certeza’ trasvestida de ‘soberba’. E também em coligações negativas entre gente das redes sociais, dos media e até da política.
Todos cultores de uma espécie de religião das verdades convenientes, com base no uso quase exclusivo da tecnologia, em concertação com a arrogância, contra os saberes clássicos.
Essas ‘novas ignorâncias’ acabam, na prática, por ser o alimento do generalismo, do populismo e do justicialismo. Bem como da dispensa de regras sólidas de relacionamento, com desprezo pela estabilidade das relações sociais.
Significando mais do que a vida em sociedade ‘em direto’, a vida partilhada nas redes sociais não respeita valores de vida e de relacionamento, tais como a preservação da intimidade e da privacidade.
Tudo isto está associado à desvalorização das ciências sociais, ao menosprezo pelas humanidades, à sobrevalorização da ortodoxia dos números, à hipervalorização das vidas em direto – incluindo as idas à casa de banho ou ao cabeleireiro!
Tudo é imediato. O que dê trabalho e demore tempo é coisa do passado. O que conta é a última hora, que muitas vezes não passa da última mentira ou da última ilusão, que o tempo infelizmente se encarrega de desmentir. O que sobra são arruadas mediáticas ruidosas que impressionam social e mediaticamente.
Tudo tem de caber na tecnologia, na internet, nas redes sociais, nos blogues, no iPhone, no iPad, etc. O que não se faz lá (ou não passa por lá) parece ser coisa de ignorantes e de gente do tempo antigo.
Quem tem filhos adolescentes (e mesmo de outras idades) percebe que, se deixarmos estas novas ignorâncias e estes novos equívocos fazerem o seu caminho, estamos a contribuir para mais uma fornada de gente ignorante e iludida, julgando que sabe muito! E que o (pouco) que sabe é algo de soberbo e definitivo.
Aquilo que implique ler, comparar e confrontar, não faz sentido. É passado. É típico dos ‘cotas’. O Google é para muitos a cábula universal que dispensa tudo: livros, bibliotecas, mais e melhores estudos…
São cada vez mais os sinais de ilusão que estas novas ignorâncias e estes equívocos nos dão. Quando vemos pessoas (famílias inteiras) à mesa do restaurante sem se olharem e muito menos falarem, focadas nos seus utensílios eletrónicos – que os isolam de muita coisa a que não mais irão ter acesso e que nunca mais irão entender -, estamos conversados.
Tenho-o escrito nos últimos anos: tudo isto já se está a pagar bem caro. Vivemos no tempo em que as sociedades não têm tempo para ter memória, para respeitar o silêncio, para cruzar saberes maduramente, e onde se privilegiam as mentiras que encantam e não as verdades que incomodam.
Isto também tem muito que ver com a qualidade dos media, sobretudo dos novos media, onde os filtros legais e deontológicos são cada vez mais atirados para o caixote do lixo. Onde a criação de maremotos mediáticos e de massacres em direto, que se alimentam de fontes que não passam de amigos que cultivam falsos moralismos, vão acontecendo com frequência.
O acesso da última geração do séc. XX e da primeira do século XXI à adolescência e à maioridade deverá levar-nos a repensar tudo isto. As coligações negativas fazem mal não só aos próprios mas a toda a sociedade. Muitos deles viciados nas redes sociais. O poder das novas ignorâncias e dos novos equívocos é grande demais para o pouco que acrescenta de efeitos positivos.
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