O diretor dos serviços de inteligência internos alemães, o Gabinete Federal para a Proteção da Constituição, Hans-Georg Maaßen, foi hoje obrigado a demitir-se pela chanceler Angela Merkel por negar terem existido “caçadas coletivas” a refugiados em Chemnitz, na Saxónia, Alemanha de Leste, no final de agosto.
A decisão foi tomada depois de uma reunião entre os líderes dos partidos da coligação governamental – CDU, CSU e SPD -, com o governo a emitir um comunicado a anunciar que o responsável iria assumir novas funções no ministério do Interio alemão. A imprensa alemã ressalvou que a mudança de posto é, na verdade, uma promoção.
As exigências de afastamento de Maaßen do seu cargo levou a um novo escalar das tensões entre a CSU, partido-irmão da CSU na Baviera e liderado pelo ministro do Interior, Horst Seehofer, sobre a política do governo para a imigração. Seehofer tem sido um dos mais duros críticos da política de imigração adotada pela chanceler Merkel, desde 2015, por receio de perder eleitorado para o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha na Baviera, que irá a eleições regionais em outubro.
Tudo começou quando Maaßen afirmou que o serviço de inteligência que lidera – e que tem funções semelhantes às do Serviço de Informações de Segurança (SIS) português – não tinha “informações fiáveis sobre quaisquer caçadas terem acontecido” em Chemnitz. Também questionou a veracidade dos vídeos que mostravam centenas de pessoas a correrem atrás de imigrantes nas ruas da cidade, afirmando que poderiam ser “fake news”. As suas palavras contrariaram as declarações da chanceler Merkel sobre o sucedido – a governante classificou as perseguições como “caçadas coletivas” e disse que tais comportamentos não têm lugar num Estado de direito.
Com a sua posição contestada por uma alta figura do aparelho de Estado alemão, o ministro do Interior aproveitou a ocasião para minar a governação de Merkel, apoiando Maaßen. Por sua vez, o SPD pressionou a chanceler para que demitisse o responsável pelo serviço de inteligência, mostrando novas divisões no seio da coligação alemã.
Depois de horas de reunião entre os líderes das forças partidárias que compõem a coligação, Merkel chegou ao compromisso de afastar Maaßen do cargo para o destacar para outro posto no ministério do Interior, ficando sob a tutela de Seehofer. Uma vitória política para o ministro.
“O senhor Maaßen tornar-se-á secretário de Estado no ministério federal do Interior”, pode ler-se no comunicado. “O ministro do Interior Horst Seehofer valoriza a sua competência em matéria de assuntos de segurança pública, mas o senhor Maaßen não será responsável pelo Gabinete Federal para a Proteção da Constituição no ministério”.
O seu substituto ainda não foi nomeado.