José Sócrates afirmou, em entrevista ao jornal brasileiro Folha de São Paulo, que ao contrário do Partidos dos Trabalhadores (PT), que se manteve sempre ao lado de Lula da Silva, o Partido Socialista (PS) se afastou quando “foi cúmplice de todos os abusos”. Questionado se considerava que o PS o havia traído, o antigo primeiro-ministro respondeu que “a traição tem uma dimensão pessoal”.
“A diferença é que o PT [Partido dos Trabalhadores] manteve-se sempre ao lado do Lula. A primeira coisa que o Partido Socialista fez foi procurar afastar-se. A verdade é que o PS, ao longo de dois anos, foi cúmplice de todos os abusos”, disse José Sócrates, que está acusado de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal na Operação Marquês, revelando ainda que tencionava escrever um livro sobre a investigação.
Sócrates criticou ainda a escolha do juiz para o julgamento do caso, que tem estado envolta de polémica,
O ex-primeiro-ministro considerou que “existe aqui um julgamento inquisitorial”. “O que separa o sistema inquisitorial do sistema acusatório é justamente o facto de não ser, a pessoa que julga, a mesma que investigou”.
“A lei impõe que a operação de distribuição seja por sorteio [sendo que o tribunal tem dois juízes], que é a operação mais democrática de todas”, mas “não foi isso que aconteceu”, referiu.
“A legitimidade básica do juiz é que ele está acima das partes. O Ministério Público resolveu escolher um árbitro. Eu nunca tive um juiz imparcial. Não há julgamentos justos sem um juiz imparcial”, afirmou Sócrates, deixando clara a sua opinião.
Recorde-se que, na passada semana, a TSF havia publicado um artigo de opinião de José Sócrates em que este afirmava que todo o processo da Operação Marquês tinha sido “viciado” e “corrompido desde o seu início por forma a ter o juiz titular que uma das partes desejava, um juiz com partido, um juiz escolhido”.