No início da pré-temporada encarnada, Luisão renovou com o Benfica por mais uma temporada, anunciando ao mesmo tempo que esta seria a última como atleta profissional dos encarnados.
Na altura, a notícia do prolongamento do vínculo surgiu com algum espanto, até porque as águias já tinham assegurado a contratação de dois centrais argentinos (Conti e Lema) e tudo fazia prever que Jardel e Rúben Dias fossem continuar de águia ao peito – além dos jovens valores a afirmar-se na equipa B e nos demais escalões de formação, como Ferro ou Kalaica. Na época passada, Luisão já só foi opção até dezembro, quando sofreu uma lesão que o afastou um mês dos relvados; depois disso, jogaria apenas na antepenúltima jornada, quando protagonizou uma exibição medonha na derrota caseira frente ao Tondela (2-3) que ditou o adeus definitivo do Benfica ao sonho do penta, e na derradeira ronda, numa vitória magra sobre o Moreirense (1-0).
Agora, sabe-se que o jogador brasileiro esperava despedir-se dos relvados em competição. Algo que não aconteceu e que deixou Luisão insatisfeito com o treinador Rui Vitória. De acordo com o jornal Record, o central brasileiro esperava, pelo menos, uma oportunidade de jogar na Allianz Cup para aí conseguir uma despedida que o jogador considerava mais digna depois de ter estado tanto tempo ao serviço do clube.
O adeus será provisório: aos 37 anos, Luisão vai pendurar as chuteiras mas deverá assumir, daqui a alguns meses, um cargo na estrutura encarnada, presumivelmente ligado às relações internacionais.
O mais titulado de sempre
Há pouco mais de um ano, Luisão capitaneava o Benfica no triunfo da Supertaça sobre o Vitória de Guimarães (3-1) e tornava-se o jogador mais titulado da história do Benfica: 20 troféus, entre os quais seis campeonatos. Entrava aí no palanque destinado às maiores glórias da história das águias – um monstro sagrado, ao lado de lendas do imaginário encarnado como Germano, José Augusto, António Simões, José Águas, Humberto Coelho, Shéu, Nené, Mário Coluna ou, obviamente, Eusébio.
Pelos títulos, e também pela longevidade com o emblema encarnada ao peito: Luisão estava a iniciar a 16.ª temporada no Benfica, onde chegou com 22 anos, na já longínqua época 2003/04. Assumiu-se de imediato como titular no centro da defesa encarnada, ganhando rapidamente o estatuto de patrão do setor e, com o declínio de Nuno Gomes, também o de líder do balneário. “Pela sua forma de ser e personalidade, ele não usava a braçadeira mas fazia parte do grupo de capitães, não só pela posição e pela altura mas por aquilo que dizia a pensava. Era um líder nato”, frisava esta terça-feira Nuno Gomes.
O primeiro troféu de Luisão no Benfica foi precisamente nessa temporada 2003/04: a Taça de Portugal, ganha no prolongamento (2-1) ao FC Porto de José Mourinho que se sagraria campeão europeu poucos dias depois. Na época seguinte, o primeiro campeonato, onde teve papel decisivo: foi seu o golo que ditou o 1-0 ao Sporting na penúltima jornada e praticamente garantiu o título aos encarnados, liderados por Giovanni Trappatoni (o primeiro em 11 anos).
Daí para cá, nunca parou de somar, crescendo em palmarés (também pela seleção do Brasil) e ao mesmo tempo na consideração de Luís Filipe Vieira – por diversas vezes, uma das quais na homenagem desta terça-feira, o presidente do Benfica (condição que assumiu precisamente na altura da contratação de Luisão) se referiu ao central brasileiro como um “companheiro nesta caminhada”, numa relação quase como de pai e filho. Vieira, de resto, conseguiu por diversas vezes segurar o capitão, apesar das várias propostas financeiramente muito vantajosas para o jogador que foram surgindo ao longo dos anos. “Uma vez, vim treinar e acabei a chorar, dizendo que ia voltar ao Brasil porque não suportava a pressão. Mas o psicólogo disse-me que tinha de voltar como vitorioso e pus na cabeça que faria história aqui. O Benfica deu-me tudo”, contou Luisão esta terça-feira.
Terá faltado apenas um objetivo à dupla: uma conquista europeia. As duas finais da Liga Europa perdidas de forma consecutiva (2012/13 e 2013/14) acabaram por ser o canto do cisne, com ambos a referir em diversas ocasiões o sonho – utópico, percebe-se agora – de vencer a Liga dos Campeões. “É uma das coisas que lamento na carreira. Tivemos duas oportunidades e isso é algo que vou lamentar”, admitiu. Apesar dessa falha, e 538 jogos oficiais depois (o segundo melhor da história do Benfica, só atrás do recordista Nené, com 578, e único estrangeiro a ultrapassar o patamar das cinco centenas de partidas nas águias), o Luisão jogador parte com o sentimento de dever cumprido. Venha agora o Luisão de fato e gravata.