Apesar das críticas que vão surgindo em relação ao crescimento do turismo em Portugal, o primeiro-ministro ainda quer mais e tem como meta subir o peso deste setor no produto interno bruto (PIB) do país. «Não há turistas a mais em Portugal. Pelo contrário, temos de aumentar a intensidade do turismo e de melhorar e diversificar a oferta. Se o setor vale hoje 8% do PIB, ficou traçado o objetivo de chegar aos 10%», a média do peso que o turismo tem no espaço europeu, afirmou António Costa na semana em que se comemorou o Dia Mundial do Turismo. Feitas as contas, significaria um crescimento em valor da ordem dos 3900 milhões de euros, tendo em conta o PIB de 2017.
O primeiro-ministro reconhece que há trabalho a fazer, mas «não passa por limitar ou condicionar a atividade turística». No seu entender, se há problemas ao nível da habitação a resposta «não é proibir o turismo», mas sim aumentar a oferta com mais casas disponíveis no mercado – daí a importância de se aprovar o diploma do rendimento acessível (ver texto ao lado).
A verdade é depois de meses e meses de crescimento, o setor do turismo parece dar algum sinal de abrandamento. O número de turistas tem vindo a decrescer e essa tendência já é visível nos últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Portugal recebeu 2,2 milhões de hóspedes e registou 6,7 milhões de dormidas em julho, o que representa uma queda de 2,1% e 2,8%, respetivamente, face a igual período do ano passado. Nos primeiros sete meses do ano, os hóspedes tinham aumentado 1,6%, enquanto as dormidas recuaram 0,3%. Mas nem assim o mercado parece esmorecer e continua a falar nos «melhores anos de sempre». Apesar da quebra, nos primeiros sete meses o setor gerou 8913 milhões de euros, mais 13% do que em idêntico período do ano passado (em 2017 o novo recorde fixou-se acima dos 15 mil milhões).
Só as regiões Norte e Alentejo escaparam a esta redução no mês de julho. No Norte assistiu-se a um acréscimo de 2% nas dormidas, tanto de residentes como de não residentes, para um total de 795 mil em julho. Já no Alentejo houve uma estabilização (0,1%) em torno das quase 227 mil dormidas; no entanto, a captação de mais estrangeiros compensou o recuo nos portugueses.
Esta redução no setor ficou a dever-se à diminuição de 1,6% dos turistas estrangeiros, para 4,7 milhões. O Algarve e a Madeira, são as regiões onde os efeitos da retoma da atividade turística na Turquia, Egito e Tunísia mais se refletem, com um recuo de 6,5%.
O Reino Unido, principal mercado emissor de turistas para o país, voltou a diminuir pelo sétimo mês consecutivo, desta vez 11,7%. Desde o início do ano, a proporção de turistas ingleses já caiu 8,8%. Também o número de franceses (- 5,9%), alemães (-1,6%) e espanhóis (-1,3%) é cada vez menor. A preocupação com os números de julho só não é maior porque houve, por exemplo, mais canadianos (+48,5), norte-americanos (+33,6%) e brasileiros (+11,6%) a procurar a hotelaria nacional. Em contrapartida, os residentes contribuíram com dois milhões de dormidas, uma subida de 1,6%.
Crescer na época baixa
Um cenário que não parece assustar a secretária de Estado do Turismo. Ana Mendes Godinho garante que já não há «margem para crescer no verão» e que o objetivo é, precisamente, crescer na época baixa. E garante que o aumento das receitas turísticas é mais do que suficiente para compensar a quebra do número de turistas. «Estamos a conseguir ter uma evolução da receita muito superior à dos turistas. Não nos interessa ter muitos turistas se isso não trouxer valor e receita para o território», diz a governante.
De facto, mesmo recebendo menos turistas, as receitas das unidades hoteleiras subiram. O rendimento médio por quarto disponível (RevPAR) aumentou 5,6%, para os 77,6 euros. O RevPAR foi mais elevado no Algarve (103,2 euros). Os hotéis de cinco estrelas e as pousadas foram os mais lucrativos (103,6 euros e 79,8 euros, respetivamente). No entanto, são valores inferiores quando comparados com os avançados pela AHP, que aponta para um aumento do preço médio por quarto ocupado (ARR) nos 11%, para 117 euros, enquanto no Algarve os valores chegaram a atingir os 162 euros.
Peso na economia
Portugal já é atualmente um dos países que mais depende do turismo. Só a Espanha, onde o turismo vale diretamente 11% do PIB, se mantém acima, a liderar a tabela – ultrapassamos assim, França, Itália, Áustria, Hungria e Grécia.
Os dados são de um estudo que se foca nas tendências do turismo na União Europeia na última década e até 2016. De acordo com a Organização Mundial do Turismo, os dois países ibéricos lideram o crescimento do setor na Europa, com Portugal a ter a segunda maior percentagem não apenas da Europa, mas também dos países desenvolvidos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). O turismo português vale ainda 20% das exportações do país e 58% das exportações na área dos serviços.