Com o objetivo de ver o Barreiro a afirmar-se cada vez mais como uma alternativa a Lisboa para habitação e para o investimento no turismo, Frederico Rosa pretende maximizar o facto de a solução do novo aeroporto passar pelo Montijo. Para o presidente desta autarquia, basta apostar numa ligação de cerca de 1 km entre o Barreiro e o Montijo para que as pessoas percebam que o Barreiro é uma cidade com todas as condições para quem quer viver e trabalhar.
Ao SOL, o autarca explica que, «apesar de ser preciso conhecer os resultados de todos os estudos primeiro, há coisas que já se sabem. Ligar o Lavradio [no Barreiro] ao Montijo implica uma infraestrutura de apenas 1 km e é preciso ter em conta a importância desta infraestrutura. O novo aeroporto pode trazer mais-valias a toda a região».
Frederico Rosa defende ainda que «num concelho tão carente de emprego é importante aproveitar o contágio do aumento de postos. Para algumas pessoas, falar de ponte é falar de uma terceira travessia do Tejo, mas não é de nada disso que estamos a falar. Estamos a falar de uma ponte de 1 km que fará toda a diferença em termos de desenvolvimento económico e criação de emprego».
Até porque, para o autarca, apostar numa ligação deste género é apostar no desenvolvimento de toda uma região e não apenas do Barreiro. «Esta ligação tem a capacidade de ser uma alavanca para toda esta zona», defende.
Fumo branco
Entre os que mais defendem que a solução para a Portela tem de avançar rapidamente está a TAP. De acordo com o CEO da companhia aérea, Antonoaldo Neves, as intervenções no aeroporto de Lisboa e as soluções para acabar com a falta de capacidade da infraestrutura da capital eram precisas «para ontem». O presidente executivo da companhia assegura que não faz sentido comprar aviões e, ao mesmo tempo, «ter de mendigar saídas rápidas da pista». A contabilizar os prejuízos que já foram causados pelos atrasos no aeroporto de Lisboa, a TAP fala de 100 milhões, quando há quatro anos a fatura era de 50 milhões.
Sobre esta questão, também o CEO da ANA – Aeroportos, empresa que gere estas infraestruturas em Portugal, explicou a importância do encerramento da pista secundária do aeroporto de Lisboa para avançar com a expansão da capacidade e disse que essa é uma decisão que não é da gestora dos aeroportos. «Assim que houver a decisão, podemos arrancar com as obras», garante Thierry Ligonnière.
Numa semana fortemente marcada pelo tema do novo aeroporto e da necessidade de ser tomada uma posição, o CEO da ANA sublinhou ainda que a solução Portela + Montijo deverá «entrar ao serviço em 2022». Na comissão parlamentar de Economia, Inovação e Obras Públicas, Thierry Ligonnière explicou que, basta encerrar as negociações, para que se possa «passar o mais rápido possível para a realização» da transformação da atual base militar em infraestrutura complementar do aeroporto de Lisboa. Até porque, ainda que as negociações tenham sido demoradas, «está a chegar ao fim a parte económica».
De acordo com o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, espera-se que, «muito em breve», seja anunciada «a conclusão do acordo» com a ANA – Aeroportos de Portugal, em relação ao aeroporto do Montijo, referindo estar «muito adiantado» o processo técnico e financeiro.
A esta posição junta-se a de António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa. O primeiro-ministro afirmou esta quinta-feira que a solução é praticamente «irreversível», considerando que há consenso nacional sobre este projeto. Para o Executivo, não há portanto tempo a perder. «Temos de corrigir hoje o erro que foi cometido há dez anos de a tempo e horas não termos feito o aeroporto de que já então necessitávamos. Há cerca de um ano o Governo assinou com os novos proprietários da ANA um acordo para definir uma opção estratégica fundamental, que está definida: Manter a Portela [Aeroporto Humberto Delgado] e crescermos com um novo aeroporto no Montijo», disse.
Também Marcelo Rebelo de Sousa se manifestou e não deixa margem para dúvidas: A execução do aeroporto no Montijo tem de ser rápida. «Feliz» com o anúncio de que o aeroporto complementar do Montijo poderá vir a ser anunciado em breve, o chefe de Estado ressalva que «a execução tem de ser rápida para recuperarmos aquele tempo que outros ganharam à nossa custa».
Incentivos ganham destaque
A verdade é que cada vez mais pontos mostram que as negociações vão, de facto, avançadas. Prova disso é o facto de a ANA já estar também a negociar com companhias aéreas planos de incentivos para as primeiras que escolham o Montijo. Também as que decidam mudar parte das operações de Lisboa para a futura infraestrutura irão ter vantagens. «Estamos a desenhar planos de incentivos para quem vá lá primeiro. Haverá vantagens ao nível de taxas». O mesmo vai acontecer com as «companhias que mudem parte das suas operações do aeroporto Humberto Delgado para o Montijo», afirma Thierry Ligonnière.
Corrida contra o tempo
Se por um lado as negociações parecem estar a avançar com grande rapidez, por outro, também ganham dimensão as vozes que se levantam contra esta solução. A plataforma cívica contra o novo aeroporto na Base Aérea n.º 6, no Montijo, garante mesmo que é impossível falar «consenso nacional» porque não existe e fala em «cedência do Governo aos interesses privados da VINCI».
Outro ponto que tem chamado a atenção de muitos é o facto de o novo aeroporto não ter de ser submetido ao novo Conselho Superior de Obras Públicas, responsável por dar parecer prévio a todas as obras acima de 75 milhões.
Recorde-se ainda que o descontentamento afeta também muitas organizações do Montijo e está, por isso, agendada para hoje uma marcha contra a o novo aeroporto na Base Aérea n.º 6. Em questão estão vários pontos, nomeadamente, o facto de a solução negligenciar a saúde e o bem-estar das pessoas, tal como «o ambiente e a segurança aeronáutica, industrial e pública».