Uma deputada municipal da cidade de Kumamoto foi na sexta-feira expulsa do parlamento municipal japonês por ter falado no pulpito enquanto comia um rebuçado para a tosse. Ao recusar-se a pedir desculpas por o estar a fazer por motivos de saúde, Yuka Ogata viu os restantes parlamentares exigirem a sua expulsão do hemiciclo. Depois, os deputados votaram a favor da criação de uma comissão para a disciplinar.
“Muitos dos outros deputados têm-me criticado abertamente, insinuando que não sou uma boa mãe ou ao alegarem que muitos cidadãos acham ultrajante providenciar-se serviços de creche aos deputados com crianças”, disse Ogata ao “Guardian”. Opinião não partilhada pelo presidente da câmara de Kumamoto, Kazufumi Onishi. “É inaceitável que um adulto responsável faça perguntas com um rebuçado na boca”, criticou. “Ela tem de admitir que errou”.
Para o aumento da tensão não estará apenas o incidente de expulsão da passada sexta-feira, mas um outro episódio que a opôs aos restantes membros do parlamento. Em novembro, Ogata foi expulsa do mesmo hemiciclo por estar a amamentar a sua bebé de sete meses. Pediu permissão para poder amamentar ou para que lhe proporcionassem serviços de creche, mas os deputados recusaram. Vendo-se sem alternativas para conseguir acompanhar os trabalhos parlamentares, Ogata decidiu mesmo desobedecer e amamentou a sua bebé durante a reunião magna. A deputada queria ilustrar a dificuldade das mulheres em conciliarem o trabalho com a maternidade. “Sentem-se mal pelas suas atitudes desatualizadas terem sido expostas e criticadas em público”, contou. “Desde aí que têm tentado passar uma imagem minha como alguém que se comporta de forma egoísta e irracional”, acrescentou, referindo ainda que o parlamento é composto por uma maioria de “homens mais velhos”.
O Japão vive uma crise na atribuição de vagas de creches pelo Estado, com o número das crianças em lista de espera a aumentar pelo terceiro ano consecutivo. O governo de Shinzo Abe prometeu colocar todas as crianças em creches até abril de 2020.