Este Orçamento do Estado para 2019 tem provocado uma série de intervenções dos dirigentes dos partidos integrantes da ‘geringonça’. Catarina e Jerónimo não se pouparam a fazer reivindicações – e António Costa veio, em entrevista na TVI, repor o que considera fundamental de integrar neste OGE e declinar o patrocínio das ideias sonhadoras do Bloco e PCP.
Catarina Martins – a fazer de Centeno, ministro das Finanças – preocupou-se em chamar para si o mérito das devoluções financeiras concedidas por este Governo, mas garantiu que há margem para ir muito mais além. Pensões a subir, custo da energia a diminuir pela via da diminuição do IVA, salários e prestações sociais a aumentar e, sobretudo, o crescimento do investimento público – que reconhecidamente tem vindo a falhar, conforme é notório quer nos transportes quer na saúde. Como iria financiar tudo isto, nem uma palavra Catarina proferiu. Mas, caso Costa fosse nestes sonhos cor-de-rosa, imaginamos que o faria com mais impostos sobre tudo o que mexe. Não ter a responsabilidade de governar é tão bom, tão doce! Prometer, sabendo que não tem o encargo de posteriormente cumprir, é bem revelador do nível de irresponsabilidade da nossa política e de muitos dos nossos políticos.
Jerónimo tem aquele discurso habitual no PCP. Por um lado, carrega nas políticas históricas de direita do PS, referindo os perigos de um Governo exclusivamente socialista; ou seja, luta claramente contra a maioria absoluta do PS, reivindicando os méritos das políticas de esquerda deste Governo. Por outro lado, reforça as lutas na rua, para lembrar ao PS que só com o PCP há paz social.
Com base em reivindicações que até considero legítimas, coloca os professores e a CP em greve, paralisando escolas e transportes, sem piedade para com os alunos e os utentes. Em suma, mobiliza as suas hostes nestas classes profissionais, para consolidar os seus votos e evitar as migrações dos seus apoiantes para um Costa ‘encantador’, que devolveu rendimentos.
Regresso à entrevista de António Costa, muito seguro nas suas posições de defesa de um equilíbrio orçamental que nos tem dado tantos créditos em Bruxelas. Já muitos o disseram – mas, de facto, Costa ocupa presentemente todo o palco da política portuguesa. Rui Rio apagou-se e, salvo raras aparições com conteúdo oposicionista (como sucedeu com Tancos), não dá imagem de um líder na oposição. Aliás, acho que Rio não se afirma como líder nem no PSD nem no país, e as sondagens revelam essa realidade com as piores perspetivas de sempre.
Mas Costa, objetivamente, marcou pontos na economia. Cortou cerce a ideia peregrina da descida do IVA na eletricidade, porque isso de perder 400 a 500 milhões de euros na receita fiscal aleija qualquer orçamento que se preze. Brilhou socialmente ao dizer que 68% das reformas vão ter aumento de 0,5% acima da inflação (trocos para quem recebe, muitos milhões na despesa estrutural para o Estado que as paga). Ainda desmentiu tensões na ‘geringonça’, ignorando as críticas bem contundentes que recebeu dos seus parceiros. Passou pelo tema da nova PGR sem dificuldade, e, como nem sequer sobre Tancos tem sido acossado, saiu-se em grande.
Impossível, a concluir, não escrever sobre este folhetim lamentável de Tancos, autêntico calcanhar de Aquiles deste Governo em 2018. As televisões passam as diversas declarações do ministro da Defesa ao longo destes meses e ficamos atónitos, sobretudo com o facto de continuar em funções quem as proferiu. Imaginem um ministro de Passos Coelho a dizer metade dos disparates – seria Costa o primeiro a zurzir em Passos e no seu ministro, com carradas de razão. Mas pergunto eu: será que o exemplo da demissão da antiga ministra Constança Urbano de Sousa já foi esquecido? Não será que, sendo bonito defender os seus governantes até à exaustão, Costa não perceciona que esta exaustão também o exangue?
P.S. 1- Este tema das praxes académicas começa sinceramente a dar-me volta ao estômago. A ideia é excelente – ou seja, fazer um acolhimento aos jovens que entram anualmente na Universidade. A prática? Aviltante em variadíssimos casos, como se tem profusamente visto com imagens na televisão. Sinceramente questiono-me se estes rapazes ou raparigas que revelam uma mente torpe para engendrar cenários de terror aos caloiros estão de facto preparados para a vida real fora dos bancos das universidades. Mas uma coisa eu sei: sem punições severas não vamos a lado nenhum! O que defendo? Pura e simplesmente a expulsão da Universidade a estes catedráticos da imaginação fértil que proporciona tais práticas doentias.
P.S. 2 – A dupla Medina/Costa tirou enorme coelho da cartola ao assegurar a Web Summit em Lisboa para os próximos 10 anos! Desconheço as contrapartidas, mas uma coisa eu sei: trata-se de uma iniciativa de abrangência mundial e com repercussões extraordinárias na economia da cidade. Bravo!
Manuel Boto
Economista