Temos o vento a favor. Abrimos as velas. Navegamos, assim, sem cuidados outros que não os essenciais.
Esta forma de governar é uma verdadeira performance.
Sabemos todos que somos obrigados a cumprir regras e a evitar a loucura.
Sabemos que continuamos a pagar mais e a estar dependentes do humor dos mercados.
E, todavia, parece que uma estranha acalmia nos acompanha.
O governo cobra e corta e negoceia e assume compromissos.
Cobra no que menos se nota.
Corta no segredo das cativações.
Compromete-se, não para cumprir, mas para adiar o confronto.
Na letra da lei está uma obrigação clara para com os professores. E, de um momento para o outro, a interpretação autêntica é outra.
Em data a acertar, com o ritmo possível, os professores receberão.
Ou talvez se não chegue a isso porque a consideração do efeito nas reformas pode compensar.
Vociferam os atingidos.
Recorrem à greve.
Convenientemente, abrirá noticiários até à discussão do orçamento.
E os outros servidores do Estado (lembra oportunamente o governo) não devem ser tidos nem achados?
E nesta nuvem maior os vários sindicatos reclamam a compensação das perdas de vários anos.
Responde o Governo com a definição de um quantitativo global de aumento nas remunerações depois de ter aplicado a regra dos 600 euros para o salário mínimo.
Isto é. Alterou a tabela salarial. Aqueles que estão na base passaram a receber mais e deixaram de ser abrangidos pelo IRS.
E agora?
Segundo a nova proposta cada um dos funcionários teria direito a 5 euros.
Mas e se o primeiro-ministro lançar a controvérsia de decidir entre a aplicação geral dos cinco euros e a atribuição de 35 a cada um dos titulares dos mais baixos rendimentos?
Volta tudo ao início. Aumenta a confusão. Convém.
Quando chegarmos ao Orçamento, entre tudo o que alguns defenderam e o tudo que outros se comprometeram já ninguém se entende.
Sobrarão as declarações solenes. Sempre as mesmas.
«Se não fossemos nós o que de bom sucede nunca aconteceria».
«Se não fossemos nós o governo não serviria o verdadeiro povo».
«Nós (eles) somos o travão aos castigadores».
«Sim, é certo, este governo é também prisioneiro da União Europeia e do Eurogrupo e de todos os laços que nos oprimem».
O Centeno, esse guardião Centeno.
Habilidosamente, o primeiro -ministro deixa em aberto a possibilidade de Centeno sair e encontrar qualquer coisa na Europa.
Catarina e Jerónimo exultam. Não haverá IVA da eletricidade a 16 por cento. Não haverá agravamento do IMI para a especulação. Não haverá tudo para todos.
Mas, também, em contrapartida, este Centeno terá um fim.
No fundo, no fundo, Tancos é uma metáfora.
Alguém fez com que nós perdêssemos riqueza como perdemos material militar.
Por acordo entre os participantes, responsáveis e atores, recuperamos o rendimento e os bens perdidos.
Os ministros são dispensáveis, a responsabilidade do Estado também.
No Orçamento, ao material recuperado, adiciona-se uma caixa de bónus.
Somos felizes.
As partes compuseram-se.
Aí, à versão idílica, três fantasmas surgem: a polícia judiciária, o ministério público, os tribunais.
Estragaram tudo…
Querem apurar a verdade.